Folha de S. Paulo


Sonda pousa em cometa pela primeira vez na história

O módulo Philae, da sonda Rosetta, tornou-se nesta quarta-feira (12) a primeira espaçonave a fazer um pouso suave num cometa.

O sucesso inédito reforça o poderio tecnológico europeu no desenvolvimento de veículos para missões espaciais.

Em 2005, a ESA (Agência Espacial Europeia) já havia feito história ao pousar com sucesso a sonda Huygens, que desceu em Titã, satélite de Saturno –primeira manobra do tipo em uma lua que não fosse a da Terra.

Agora, o coelho que saiu da cartola foi ainda maior, diante das complexidades adicionais que envolvem a descida num cometa –objeto ativo, que emite grandes quantidades de gás e poeira conforme interage com a luz solar.

ESA/Reuters
Imagem do cometa registrada pelo módulo de pouso Philae durante sua descida
Imagem do cometa registrada pelo módulo de pouso Philae durante sua descida

DEZ ANOS E SETE HORAS

O pouso se deu às 13h35, sete horas depois que o veículo se desprendeu de sua nave-mãe, a Rosetta, e cerca de dez anos após a decolagem da Terra, realizada em 2004.

A confirmação do toque no solo do cometa Churyumov-Gerasimenko veio 28 minutos depois, tempo necessário para a mensagem se propagar no espaço até a Terra, para o alívio dos angustiados engenheiros e cientistas.

"É um grande passo para a civilização humana", disse Jean-Jacques Dordain, diretor-geral da ESA (Agência Espacial Europeia), enfatizando o pioneirismo da iniciativa.

Horas depois, contudo, a análise de telemetria revelou uma história mais complexa.

Até o fim do dia não havia ainda a certeza de que o Philae estava bem preso ao chão do cometa.

Editoria de arte/Folhapress

Dos três sistemas projetados para facilitar o pouso, dois falharam: um consistia num jato de gás frio que empurraria a sonda na direção do cometa. O outro era composto por dois arpões que deveriam ancorar o veículo.

O único que funcionou foi o conjunto de parafusos nos pés do trem de pouso, destinados a fixar a sonda no chão. Mas foram suficientes?

Flutuações nas comunicações sugerem que talvez o Philae tenha tocado o chão, voltado a flutuar e descido novamente, duas horas depois.

"Talvez hoje não tenhamos apenas pousado uma vez, mas duas vezes", brincou Stephan Ulamec, gerente do projeto na DLR (agência espacial alemã).

Na semana passada, a ESA destacava que as chances de pouso bem-sucedido eram de 50%. Alguns dos envolvidos eram ainda menos otimistas.

"Eu e meus colegas achamos que 50% era muito. O número real devia ser bem mais baixo", disse à Folha o engenheiro Lucas de Mendonça Fonseca, brasileiro que trabalhou por três anos na DLR no desenvolvimento dos sistemas de pouso do Philae.

Para ele, o módulo de pouso sempre foi uma espécie de cereja no bolo da missão, que sempre teve como grande destaque os resultados obtidos com sonda orbitadora Rosetta, que viajava pelo espaço desde 2004. O custo total do projeto foi de € 1,2 bilhão (cerca de R$ 3,8 bilhões).

Até por isso, o pesquisador ficou encantado com o sucesso. "Você vê um trabalho de três anos resumido em sete horas. Vem forte a sensação de que participei de algo grande."

Ainda que o Philae não realize tudo que propunha, os resultados até aqui já justificam o entusiasmo. Nesses anos, muitos dados úteis, ainda por ser analisados, foram colhidos. Por ora, a missão está concentrada em tentar colocar o módulo em condições de realizar seu trabalho.


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