Folha de S. Paulo


Pterossauro devorador de peixes é descoberto no Ceará

Com cerca de 70 dentes em sua bocarra alongada, o pterossauro (réptil voador) Maaradactylus kellneri provavelmente era o terror dos peixes que viviam nas lagunas do Ceará há mais de 100 milhões de anos, durante a Era dos Dinossauros. Descoberto por uma equipe de pesquisadores de universidades do Nordeste, o monstro alado foi apresentado ao público nesta quinta.

Segundo Renan Bantim, biólogo que é doutorando da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), os fósseis do bicho foram encontrados à flor da terra por um agricultor de Santana do Cariri (CE), numa fazenda pertencente a Plácido Cidade Nuvens, então reitor da Universidade Regional do Cariri. Os restos do animal acabaram virando tema do mestrado de Bantim.

Passarinho/Divulgação/Ascom UFPE
Pesquisadora Juliana Sayão apresenta nova espécie de pterossauro <i>Maaradactylus kellneri</i> em coletiva na UFPE
Pesquisadora Juliana Sayão apresenta o pterossauro Maaradactylus kellner, em coletiva na UFPE

O crânio –da ponta do focinho até a nuca– mede 75 cm, e os pesquisadores estimam que o bicho tivesse uma envergadura de asas de 6 m, muito superior à de qualquer ave de hoje. Segundo Bantim, tanto a dentição quanto a crista do bicho fortalecem a ideia de que ele, assim como outros parentes próximos encontrados na mesma região, era especializado na captura de peixes. "A crista muito alta provavelmente o ajudava a cortar a água, como uma lâmina", explica o pesquisador.

O M. kellneri e seus primos viviam num ambiente que lembra a atual lagoa dos Patos (RS), com massas de água terra adentro que tinham algum contato com o mar. Os vários tipos de pterossauros piscívoros (comedores de peixes) provavelmente exploravam de várias formas essa fonte de alimento, alguns pescando mais para o interior, outros se aventurando mar adentro.

O nome da espécie vem de uma dupla homenagem. Maara, personagem de um mito da tribo cariri, era a filha de um cacique que foi transformada num monstro de dentes afiados que capturava pescadores. Já o termo kellneri se refere a Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional da UFRJ que foi mentor de três dos autores do novo estudo, inclusive de Juliana Sayão, que hoje orienta Bantim na UFPE.

"É claro que a gente fica envaidecido com uma homenagem dessas, mas o importante é ver que há uma nova geração de pesquisadores trabalhando com os pterossauros brasileiros", declarou Kellner.


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