Folha de S. Paulo


Para evitar disseminação global do ebola, especialistas pedem monitoramento de morcegos

As epidemias de ebola que têm surgido com frequência desde que a doença foi descoberta em 1976 poderão um dia ser antecipadas e controladas caso haja um sistema de vigilância para monitorar os animais que o vírus usa como "esconderijo": os morcegos comedores de frutas.

Desde 2005, quando o biólogo franco-gabonense Eric Leroy encontrou as primeiras evidências de infecção por ebola nesses mamíferos voadores, biólogos já identificaram nove espécies suspeitas de contribuir para espalhar a infecção. A maneira com que o vírus tem passado dos morcegos para os humanos, porém ainda é um mistério.

A ONG EcoHealth Alliance acaba de publicar um levantamento sobre os filovírus, a família de patógenos do ebola. O estudo mostra que morcegos frugívoros podem ser a razão pela qual uma epidemia antes presente só na África Central eclodiu agora também na África Ocidental.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

"Mesmo antes da epidemia, sabíamos que a distribuição das espécies incluía essa área", diz o biólogo Kevin Olival, um dos autores do estudo. Segundo ele, o espalhamento da epidemia agora realça a necessidade não apenas de se ampliar a vigilância sobre morcegos como entender a ecologia da doença.

A grande questão é saber o que os humanos fazem para se infectarem, diz. "Seria a caça a morcegos e consumo de sua carne? Seria o consumo de frutas mordidas por morcegos? Seria o contato com macacos infectados por morcegos? Não sabemos ainda qual fator levou até os humanos um vírus que antes estava escondido na floresta por centenas de anos."

Um motivo pelos quais morcegos se tornaram os principais suspeitos de serem o reservatório natural do ebola é que experimentos confirmaram que eles não adoecem, e podem abrigar o vírus indefinidamente. Isso sugere que esses animais conviveram com o vírus durante os milhares de anos de sua história evolutiva, diz Olival.

Algumas espécies são migratórias, mas mesmo aquelas que têm populações relativamente estagnadas podem reservar surpresas.

Segundo Sylvain Baize, do Instituto Pasteur em Lyon, a linhagem de ebola da epidemia na África Ocidental é um bocado diferente da que antes aparecia na África Central. "Talvez o ebola tenha circulado incógnito nessa região por algum tempo", afirma.

A má notícia é que morcegos com anticorpos contra o vírus –um sinal de contato prévio– já foram achados pela equipe de Olival até em Bangladesh e na China.

"Não é razão para pânico, mas temos de estar cientes de que não é impossível uma epidemia humana ocorrer ali", diz. "O que existe na Ásia talvez não seja exatamente o Zaire ebolavirus [espécie mais agressiva do patógeno], mas um vírus parecido."

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

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