Folha de S. Paulo


Jovem designer cria método para ilustrar dinossauros e coleciona prêmios

A região onde hoje está o Brasil teve uma pré-história movimentada, com dinossauros, pterossauros, crocodilomorfos e vários outros animais perambulando por aqui. Extintos há milhões de anos, muitos desses animais estão "voltando à vida" nos fundos de uma casa de Uberaba, no Triângulo Mineiro.

É lá que o designer Rodolfo Nogueira, 27, dá forma a uma boa parte das descobertas mais recentes da paleontologia brasileira.

Fã das grandes feras do passado, ele conseguiu transformar a paixão de infância em profissão e hoje tem um estúdio que se dedica sobretudo a criar concepções artísticas de bichos e plantas que deixaram de existir há milhões de anos.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

No Brasil não existe um curso de formação nessa técnica, conhecida como paleoarte. Em outro lugares do mundo, a situação não é muito diferente. Por isso, uma boa parte do trabalho vem de estudo e formação autodidata, fazendo com que a maioria dos paleoartistas tenha um estilo muito próprio de criar suas ilustrações.

Rodolfo aproveitou a graduação em desenho industrial na Unesp (Universidade Estadual Paulista) para criar seu método, que ele prefere chamar de paleodesign.

"Eu nunca saí daquela fase infantil de gostar de dinossauros. E na faculdade eu percebi que eu precisava aprender algumas coisas para representá-los, como modelagem em 3D e escrita científica", explica ele, que também mergulhou em estudos de anatomia para conseguir representar os animais de uma maneira bem realista.

O MÉTODO

A técnica criada pelo mineiro envolve várias etapas. O primeiro passo é o contato com o fóssil e com os artigos científicos sobre ele.

"Muitas vezes eu também vejo o fóssil pessoalmente, além de conversar bastante com o paleontólogo", diz.

A partir do fóssil, ele calcula como seria o esqueleto do bicho e o reconstrói em 3D no computador. Com base nisso ele determina como era o padrão de musculatura, uma etapa crucial para a aparência do animal.
Por fim, para determinar a cor e a aparência da pele ou das penas, são combinados diversos métodos, que incluem a observação da coloração de animais atuais.

"Temos de traduzir para o público leigo de uma forma que seja bonita e ao mesmo tempo fiel", resume.

A atividade começou como hobby, mas após enviar amostras de seu trabalho para paleontólogos e outros pesquisadores, Rodolfo logo virou profissional e passou a ser requisitado na área.

O mineiro já abocanhou uma série de prêmios nacionais e internacionais. A reconstrução de um dinossauro descoberto no Maranhão rendeu a Rodolfo o primeiro lugar em um concurso de ilustração na Espanha. No Brasil, o encontro de paleontologia Paleo SP batizou seu concurso de paleoarte em homenagem a ele.

"Hoje já não se concebe a paleontolologia sem a paleoarte. A representação visual é uma maneira muito eficiente de aproximar o conhecimento do público", diz Alexander Kellner, pesquisador do Museu Nacional da UFRJ que participou da descrição de mais de duas dezenas de espécies de pterossauros.

"As pessoas tendem a achar que a reconstrução é algo muito livre. Na verdade, elas estão bem presas ao aspecto científico", completa o cientista, que é curador de uma mostra atualmente em cartaz no Museu de História Natural de Nova York que traz várias reconstruções dos répteis voadores.

A paleontologia brasileira vive um momento particularmente bom, com a descrição de diversas novas espécies. "A paleoarte tem muito espaço para crescer. Nunca se falou tanto de dinossauro", afirma Rodolfo.

Karime Xavier/Folhapress
Rodolfo Nogueira, designer mineiro de 27 anos responsável pelas concepções artísticas dos principais animais da pré-história brasileira nos últimos anos.
Rodolfo Nogueira, designer mineiro de 27 anos responsável pelas concepções artísticas dos principais animais da pré-história brasileira nos últimos anos.

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