Folha de S. Paulo


Saiba como funciona o esqueleto-robô que dará o pontapé inicial da Copa

Na próxima quinta-feira (12), pouco antes do jogo de abertura da Copa do Mundo entre Brasil e Croácia no Itaquerão, um brasileiro paraplégico com uma veste robótica movida pelos seus sinais cerebrais deve entrar em campo andando e dar o pontapé inicial da competição.

O funcionamento do exoesqueleto se baseia no conceito de interface cérebro-máquina, na qual a atividade cerebral é captada, processada e traduzida na forma de comandos mecânicos para um robô, que os executa. Isso permitiria a pessoas que sofreram lesão medular recuperar artificialmente os movimentos das pernas.

O projeto é liderado por Miguel Nicolelis, um dos mais visionários e polêmicos cientistas brasileiros, e recebeu R$ 33 milhões de reais do governo federal por meio da Finep, agência de fomento ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

Paulistano de 53 anos, torcedor fanático do Palmeiras e petista declarado, Nicolelis se mudou para os EUA no fim dos anos 1980, onde desenvolveu sólida carreira científica. Hoje, é codiretor do Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke, uma das mais renomadas dos EUA.

Ao mesmo tempo em que é adorado nas redes sociais e apoiado por autoridades políticas, o neurocientista recebe críticas veladas e abertas da comunidade científica.

Uma das dúvidas em torno da exibição está no fato de que, apesar de sua experiência, Nicolelis não possui nenhum trabalho científico publicado com humanos, apenas com macacos e roedores.

Há também questionamentos sobre os avanços no campo da neurociência decorrentes do projeto. Durante toda a sua carreira, Nicolelis estudou e defendeu o uso de eletrodos implantados no cérebro para a captação dos sinais cerebrais, mas na demonstração da Copa será usada uma técnica não invasiva, a eletroencefalografia, criticada por ele em artigos e livros e considerada menos precisa.

A impossibilidade de resolver de forma satisfatória e ética o projeto inicial dentro do limite de tempo imposto pela Copa é apontado como causa principal da mudança.

Em resposta à Folha no fim de março, Nicolelis disse que a mudança de técnica não diminuía a relevância científica ou clínica da iniciativa.

Glauco Arbix, presidente da Finep, afirma que acompanhou os testes no laboratório de Nicolelis em São Paulo e que os resultados são empolgantes. "A expectativa é que a ciência brasileira mostre uma cara que pouca gente no Brasil e no mundo consegue imaginar."


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