Folha de S. Paulo


Em reação a sanções, Rússia nega vida extra à estação espacial

O governo russo ameaçou hoje encurtar a vida útil da ISS (sigla em inglês para Estação Espacial Internacional) em retaliação às sanções americanas contra a ocupação da Ucrânia. Foi o primeiro movimento de retrocesso na parceria entre programas espaciais dos países desde o período da guerra-fria, antes de 1991.

O vice-primeiro-ministro russo Dmitry Rogozin disse hoje que deve rejeitar o pedido do governo americano para prolongar a operação da ISS para além de 2020. Moscou também pretende negar aos EUA o uso de foguetes russos para lançar satélites militares, além de suspender a operação de estações receptoras de satélites do sistema de navegação GPS em seu território a partir de junho.

A retaliação foi anunciada após a divulgação de planos americanos para impedir licenças de exportação de produtos de alta tecnologia que possam ajudar as forças armadas russas.

"Estamos muito preocupados com a continuidade do desenvolvimento de projetos de alta tecnologia com um parceiro tão pouco confiável quanto os Estados Unidos, que politizam tudo", afirmou Rogozin em uma entrevista coletiva.

Washington quer manter ativa a estação espacial -um projeto que envolve 15 países e um orçamento estimado em US$ 100 bilhões– até pelo menos 2024, quatro anos além da meta atual. Não há como manter a ISS em operação, porém, sem infraestrutura russa.

Desde a aposentadoria dos ônibus espaciais da Nasa, as espaçonaves russas Soyuz são o único veículo capaz de levar astronautas à ISS, cuja tripulação é composta majoritariamente de americanos e russos, bem como visitantes de outros países.

O programa espacial russo, que tem sofrido com acidentes, está agora organizando um esforço para superar o problema, mas a iniciativa pode sofrer com o embargo americano a produtos de alta tecnologia. "Essas sanções são inapropriadas e fora de lugar", afirmou Rogozin. "Já temos problemas suficientes por aqui."

SATÉLITES MILITARES

A retaliação russa deve impedir o uso de motores de foguetes NK-33 e RD-180, que o país fornece aos EUA. "Estamos dispostos a entregar esses motores, mas sob a condição de que eles não sejam usados para lançar satélites militares", disse Rogozin.

Os motores RD-180 são usados como propulsores dos foguetes Atlas-5 produzidos pela ULA (United Launch Alliance), parceira da Lockheed Martin e da Boeing, que na prática detêm o monopólio de lançamento de satélites militares.

Rogozin sugeriu na entrevista, porém, que cosmonautas russos devem continuar usando a estação: "O segmento russo pode existir independentemente do americano. O segmento dos EUA não."

A Nasa está desenvolvendo novos veículos espaciais em parceria com a iniciativa privada, alguns deles capazes de levar astronautas à ISS, mas essas espaçonaves só devem ficar prontas para lançamento em 2017. Hoje os EUA pagam à Rússia mais de US$ 60 milhões cada vez que um astronauta americano é transportado à estação.


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