Folha de S. Paulo


Pesquisadores na Antártida enfrentam desafios de logística

Fazer pesquisas no continente mais alto, mais frio e com mais ventos do planeta é um desafio logístico que, não raro, deixa pesquisadores na mão.

Há uma semana, um grupo de 34 pessoas ligadas ao Proantar (Programa Antártico Brasileiro), a maioria cientistas retornando de trabalhos de campo, ficou seis dias sem conseguir sair da Antártida devido à uma sucessão de problemas meteorológicos e técnicos.

Por dois dias, o tempo fechado impediu o pouso do Hércules C-130 da FAB (Força Aérea Brasileira) que faz o transporte de pessoal e carga até o continente. Quando o clima finalmente melhorou, o avião teve um problema no motor e não pode decolar. Depois de dois dias de tentativas, uma nova aeronave foi enviada para buscar o grupo.

Mas, antes de voltar para o Brasil, no entanto, o segundo C-130 também quebrou, e os pesquisadores -e alguns de seus experimentos, acabaram mais uma vez "presos". Dessa vez, em Punta Arenas, no Chile, de onde decolam os voos para a Antártida.

O atraso fez com que cientistas ficassem em condições improvisadas, alguns inclusive dormindo no chão ou dividindo acomodações.

O secretário da Secirm (Secretaria Interministerial para os Recursos do Mar), contra-almirante Marcos Silva Rodrigues, afirmou que o problema com as acomodações foi excepcional e que serão tomadas para providências que isso não volte a ocorrer.

Giuliana Miranda/Folhapress
O cientista Eduardo Xavier, que ficou ‘preso’ na Antártida
O cientista Eduardo Xavier, que ficou ‘preso’ na Antártida

Ele negou, no entanto, que tenha havido um superdimensionamento na quantidade de cientistas brasileiros nesta temporada no continente. Segundo a Marinha, neste verão, 250 pesquisadores participaram dos estudos apoiados pelo Brasil.

Na opinião do diretor Centro Polar e Climático da UFRGS, Jefferson Simões, a seleção de projetos e a quantidade de pessoal enviados à Antártida eram, no passado, um dos grandes problemas à atuação brasileira. Mas, no último edital para verbas, isso já foi quase que completamente corrigido.

"Este é um ano de transição, com algumas pesquisas anteriores acabando. Por isso está atípico. A tendência é melhorar" diz ele. Enquanto isso, pesquisadores tentavam driblar as consequências de ficar indeterminadamente mais tempo na Antártida.

Para não perder o casamento da irmã, Eduardo Xavier, da UFRJ, comprou um assento em uma empresa privada de aviação. A viagem de duas horas da Antártida até Punta Arenas no jatinho da companhia custou US$ 2.500.

"É muito caro, mas a minha irmã está insistindo. Eu sou padrinho e ela queria muito a minha presença", diz ele, que, apesar dos contratempos, pretende voltar à Antártida no ano que vem.

A jornalista GIULIANA MIRANDA viajou de Punta Arenas a Antártida a convite da Marinha brasileira e da Antártida até Punta Arenas a convite da DAP Linhas Aéreas


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