Folha de S. Paulo


Correntes de vento rápidas explicam ondas de calor e frio

A onda de frio que os Estados Unidos sofreram em janeiro pode parecer estranha num cenário de aquecimento global, mas estudos mostram que a mudança climática está até favorecendo a ocorrência desse tipo de evento.

O fenômeno tem ligação com a onda de calor que assolou São Paulo, e por trás dele estão alterações nas correntes de jato, ventos ultrarrápidos de grande altitude.

As correntes de jato (ou simplesmente jatos) são velhas conhecidas de pilotos de avião que "pegam carona" nesses ventos para voar mais rápido. Mas elas são também um componente essencial para entender o clima da Terra.

A circulação de ar na atmosfera se divide entre três grandes massas de ar circulante, e as correntes de jato são uma espécie de marcação de fronteira.

Isso significa que o contorno dos jatos estabelece uma espécie de limite até onde as frentes frias que saem dos polos em direção aos trópicos podem chegar. Os jatos também exercem influência sobre as ondas de calor, pois marcam o limite até onde o ar quente equatorial pode trafegar na direção dos polos.

A trajetória que as correntes de jato percorrem ao redor do planeta, porém, tem se alterado de acordo com o previsto para ocorrer em função do aquecimento global.

Um trabalho publicado em dezembro pela climatologista Jennifer Francis, da Universidade Rutgers, mostra que, nos EUA, as atuais ondas de calor em áreas onde alta temperatura não é muito comum podem ser explicadas por problemas nos jatos, que têm ficado mais fracos.

Editoria de Arte/Folhapress

Os jatos do hemisfério norte têm ficado mais ondulados, e isso permite que algumas ondas de calor tropical se aproximem mais do Ártico. Ao mesmo tempo alguns braços da grande massa de ar frio do polo–o vórtex polar– chegam mais perto de áreas tropicais.

No hemisfério sul, o efeito observado, porém, é oposto. Como a diferença de temperatura entre polo e trópico cresce, em vez de enfraquecer, correntes de jato se fortalecem, ficam menos onduladas e migram para o sul.

"Isso foi o que ocorreu entre janeiro e fevereiro agora na América do Sul", explica o climatologista Francisco Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Fez muito calor e não chovia porque a corrente de jato subtropical estava quase o tempo todo sobre o Uruguai." Frentes frias e umidade que vinham do sul, então, não avançaram muito ao norte.

Segundo o cientista, a ligação entre a mudança climática e o aumento na frequência desse fenômeno no Sul ainda não é conclusiva, mas cada vez mais estudos sugerem que essa relação faz sentido.


Endereço da página: