Folha de S. Paulo


Após 70 anos 'engavetado', parente distante do jacaré é descoberto no Rio

Depois de mais de 70 anos armazenado em museu do Rio por falta de incentivo do governo, fóssil inédito de "parente distante de jacaré" é identificado pela primeira vez no Brasil. O crânio do animal foi encontrado numa pedreira de São José, em Itaboraí, município fluminense, entre as décadas de 40 e 60, mas só há um ano pesquisadores receberam financiamento para o estudo.

Segundo o paleontólogo do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Alexander Kellner, a descoberta é importante para a ciência mundial porque a nova espécie sobreviveu ao período de extinção da maior parte dos dinossauros e dos crocodilomorfos [grupos antigos de répteis] - há 65 milhões de anos. Batizado de Sahitisuchus fluminensis, que significa o crocodilo guerreiro do Rio de Janeiro, o fóssil é o mais antigo dos répteis encontrados até hoje no Estado.

"Através dessa descoberta a gente consegue entender quais foram e como eram esses animais que sobreviveram à grande extinção dos dinossauros. Agora, saber as características desse animal é um dos grandes desafios da paleontologia", disse Kellner, em entrevista à imprensa na manhã desta terça-feira, no Museu de Ciências da Terra, na Urca, zona sul carioca, onde o fóssil estava armazenado.

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Cranio do crocodilomorfo Sahitisuchus fluminensis, ancestral do jacaré
Cranio do crocodilomorfo Sahitisuchus fluminensis, ancestral do jacaré

A pesquisa apontou que o animal era um grande predador carnívoro, tinha dentes afiados, pertencia a um grupo menor de répteis chamado de Sebecidae, que já possui outros representantes da mesma idade na Argentina e Bolívia, e ocupava o topo da cadeia alimentar na região de Itaboraí. Pesquisadores explicam que a cidade fluminense é conhecida como um dos principais depósitos a nível mundial de fósseis de mamíferos.

O crânio encontrado mede 32 centímetros. Os pesquisadores estimam que o animal tivesse cerca de dois metros de comprimento. A causa de extinção dele, no entanto, ainda é um mistério.
Desenvolvido nos laboratórios do Museu Nacional da UFRJ, o estudo foi financiado pela Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) com investimentos de cerca de R$ 8 mil.

De acordo com informações de funcionários do Museu de Ciências da Terra, ainda há centenas de fósseis armazenados em salas do espaço no aguardo por incentivos do governo. Especialistas dizem, porém, que fósseis tão completos como o do Sahitisuchus, composto por crânio, mandíbula e vértebras do pescoço, são extremamente raros, e não há mais nenhum desse tipo guardado com eles.

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Concepção artística do Sahitisuchus fluminensis, um dos crocodilomorfos mais preservados do mundo
Concepção artística do Sahitisuchus fluminensis, um dos crocodilomorfos mais preservados do mundo

O resultado da pesquisa desenvolvida por Kellner, André Pinheiro, da UERJ (Universidade Estadual do Rio), e Diogenes de Almeida Campos, do Museu de Ciências da Terra, foi publicado na última edição da revista científica "PLoS One'.


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