Folha de S. Paulo


Descoberta mostra retrato de abandono de dona Leopoldina, diz historiadora

A análise dos brincos achados com os restos mortais da imperatriz d. Leopoldina ainda está em andamento no Instituto de Física da USP, mas não se trata de pedras preciosas.

"Ainda não podemos dizer com certeza qual é a natureza do material", afirma Valdirene Ambiel, historiadora e líder do grupo que realizou a exumação dos corpos de membros da família imperial brasileira.

Se for confirmado que d. Leopoldina foi enterrada com brincos de resina em vez de pedras preciosas, isso confirmaria o estado de abandono em que ela vivia na corte, segundo a historiadora Mary Del Priore.

Ela afirma que o casamento entre d. Pedro 1º e d. Maria Leopoldina foi uma história de maus tratos e solidão para a imperatriz.

A análise de sua correspondência com a família na Europa revela "a voz mais triste vinda do além que eu jamais ouvi", disse Del Priore, que lançou em 2012 "A Carne e o Sangue" (ed. Rocco, R$ 34,50), em que mostra o relacionamento entre dom Pedro 1º, sua mulher, d. Leopoldina, e a Marquesa de Santos, amante do imperador.

Segundo Del Priore, a descoberta de que a imperatriz não teve o fêmur fraturado por um empurrão de d. Pedro 1º, como acreditam alguns, "certamente indica um homem menos violento do que a historiografia havia pintado, mas é bom lembrar que a violência não é só física. A violência psicológica pode ser tão ou mais cruel".

Nos nove anos de casamento, d. Leopoldina passou por nove gestações e teve sete filhos. Como era "proibido" que o marido mantivesse relações com a mulher nesse período, diz Del
Priore, ele a mantinha grávida e, dessa forma, não se aproximava.

Sobre o relacionamento com d. Amélia, a segunda imperatriz brasileira, que se casou com d. Pedro 1º aos 17 anos, Del Priore diz que o casal era "sem graça".

A historiadora teve acesso ao diário de Maria Amélia de Bourbon, rainha dos franceses, para o seu próximo livro. Nele, ela conta sobre um encontro que teve com d. Pedro 1º e a jovem imperatriz.

"Não havia assunto e d. Pedro falava francês muito mal. Ela diz textualmente no diário que teve de se beliscar para não dormir."

Mas d. Amélia teve importância ao impor regras no palácio de São Cristóvão (residência da família imperial) e introduzir na corte brasileira rituais que vinham das monarquias europeias. Ela assumiu as obrigações da vida social que não foram desempenhadas por d. Leopoldina.


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