Folha de S. Paulo


De olho em Marte, programas espaciais revivem corrida à Lua

Às vésperas do cinquentenário das primeiras viagens tripuladas à Lua, cientistas, engenheiros e empreendedores do mundo inteiro recolocam seus olhares sobre o intrigante e solitário satélite natural da Terra. Num reajuste de rumo tão claro quanto marcante, a próxima década promete reavivar o espírito de exploração lunar.

Ninguém esconde o fato de que o próximo grande objetivo para a exploração humana do Sistema Solar é Marte. Há até quem fale em colonizá-lo ao longo das próximas décadas. Mas, seja como for, a Lua se torna um ponto de parada obrigatório nas preparações para essa futura jornada interplanetária.

Adriana Komura

Embora a Nasa apresente o desenvolvimento de um novo foguete de alta capacidade e de uma nova cápsula como elementos para futuras missões marcianas, poucos negam que a maior vocação desses sistemas é a exploração lunar. Quer ver? O primeiro voo teste do foguete, chamado SLS (sigla para Space Launch System), acoplado à cápsula Orion, está marcado para 2018. Como se trata do primeiro teste, estará sem tripulação. Mas fará um voo de contorno da Lua e então retornará à Terra, usando apenas a gravidade do satélite natural e do planeta como guia para a volta.

A ideia é que o primeiro voo tripulado, com o mesmo perfil, aconteça em 2021, e então as missões comecem a se desenrolar, por pelo menos uma década, no ritmo de uma por ano –mas sempre indo até a Lua e voltando. É uma demonstração eloquente do propósito com que esses sistemas foram projetados.

O curinga desse baralho é Donald Trump, o próximo presidente dos EUA. Vamos combinar que ninguém sabe o que ele vai fazer com a Nasa –provavelmente nem ele mesmo, a essa altura. Mas, a julgar pela postura tradicional republicana e pelas ideias defendidas por alguns de seus assessores, a Lua deve se tornar de forma declarada o alvo do programa tripulado americano para o próximo decênio.

O MUNDO DE OLHO

Fala-se tanto no programa americano pelo fato de ser o mais financiado e poderoso do planeta. Mas outras agências espaciais também mantêm seus olhos fixos na Lua. Jan Woerner, diretor-geral da ESA (Agência Espacial Europeia), defende que o próximo grande objetivo de cooperação internacional no espaço seja o estabelecimento de uma base lunar tripulada. Os moldes da cooperação seriam os mesmos adotados na Estação Espacial Internacional (ISS), que deve seguir em operação pelo menos até 2024.

Os russos, parceiros essenciais na ISS, também têm a ambição de levar cosmonautas ao solo lunar. E nem precisamos mencionar os chineses, que têm no momento o mais pujante programa de exploração lunar, por ora não tripulado. Eles farão uma missão robótica de coleta de amostras em 2017 e o primeiro pouso no lado afastado do satélite natural em 2018.

Por fim, empreendedores no mundo inteiro começam a acreditar que podem promover suas próprias missões à Lua, sem depender tanto de ações governamentais. Um prêmio de US$ 20 milhões deve ser concedido pelo Google à primeira empresa capaz de colocar um jipe robótico no solo lunar até o fim de 2017. Cinco equipes, provenientes de diversas partes do mundo, já têm voo reservado.

Até o Brasil, em toda a sua modéstia no espaço, já planeja para 2020 sua primeira missão lunar, chamada Garatéa-L, pegando carona num voo contratado por europeus num foguete indiano.

Esse movimento de intensificação não acontece agora por acidente; tem a ver com a revolução em curso que está reduzindo dramaticamente os custos de acesso ao espaço.

É o que impulsionará essa guinada na exploração espacial. Se os anos 1960 foram os que marcaram a chegada da humanidade à Lua, os de 2020 marcarão a época em que a humanidade decidiu ficar por lá.


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