Folha de S. Paulo


Com mais gente e menos recursos, saúde pública terá ano desafiador

Diante de um cenário de crise econômica e de perda de postos de trabalho formais, um dos grandes desafios para o SUS (Sistema Único de Saúde) nos próximos anos será o seu financiamento e a sua sustentabilidade. Em 2016, quase 2 milhões de brasileiros perderam seus planos de saúde e passaram a utilizar a já abarrotada rede pública.

E há um temor adicional de que a Proposta de Emenda à Constituição que limita o aumento dos gastos federais por até 20 anos, aprovada na última terça (13), reduza ainda mais os recursos da saúde.

Marlene Bergamo - 20.mar.2014/Folhapress
Pacientes esperam atendimento no hospital Tide Setúbal, na zona leste de SP
Pacientes esperam atendimento no hospital Tide Setúbal, na zona leste de SP

O texto restringe o crescimento das despesas do governo federal à inflação do ano anterior. Ocorre que a inflação do setor é, tradicionalmente, o dobro do índice oficial. Soma-se a isso o fato de que o sistema público de saúde é cronicamente subfinanciado.

Apenas 48% das despesas totais com saúde no Brasil são públicas. O restante (52%) é gasto privado, das famílias e das empresas. Na Inglaterra, que também tem um sistema de saúde universal, 85% do total é público.

Entidades do setor alertam que em 2017 estarão em risco programas já implantados, como a estruturação das redes de atenção à saúde prioritárias (cegonha, saúde mental, atenção às urgências e emergências, às doenças crônicas e às pessoas com deficiência). O governo federal nega.

Com mais gente e menos recursos, estão previstas mais filas de espera para exames e consultas, mais superlotação nas emergências, mais escassez de recursos nas unidades de saúde, mais falta de leitos.

Fora a questão do financiamento, o SUS já sofre o impacto da mudança demográfica e, consequentemente, do aumento de doenças crônicas, que demandam mais gastos.

Em 20 anos, o número de idosos deve quase dobrar, passando dos atuais de 24,9 milhões para 48,9 milhões de habitante. A população com 80 anos ou mais aumentará em mais de 150% –para 8,8 milhões.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) projeta que, em 2030, as principais causas de mortalidade no mundo não serão mais as doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares, e sim o câncer, que tem um custo de tratamento altíssimo.

Além das doenças crônicas, o país vê aumentar sua carga de doenças infecciosas. Está em curso uma nova epidemia de sífilis, que parecia coisa do passado.

O Brasil também deve entrar em 2017 com um novo recorde de arboviroses. Até setembro, casos de dengue, zika e chikungunya somavam 1,86 milhão. Pelas projeções mais conservadoras, o ano será encerrado com mais de 2 milhões de casos.

Muita gente torce para que 2016 acabe logo. Mas, na saúde pública, não há sinal algum de que dias melhores virão em 2017.


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