Folha de S. Paulo


5 curiosidades reveladas pelas cartas 'secretas' do príncipe Charles

Após uma longa batalha na Justiça, iniciada pelo jornal britânico The Guardian em 2005, foram reveladas, nesta semana, as cartas que o príncipe Charles escrevia ao governo, dando sua opinião sobre vários assuntos ou pedindo apoio a causas que ele via como importantes.

A Justiça decidiu que o governo estava errado ao decidir vetar a liberação das cartas a imprensa.

As 27 cartas, escritas à mão, foram endereçadas a sete departamentos do governo entre 2004 e 2005, quando o país era governado pelos trabalhistas, comandados pelo premiê Tony Blair.

O governo pedia que as missivas fossem mantidas em segredo, argumentando que elas poderiam lançar dúvidas sobre a neutralidade política do futuro rei (uma expectativa que recai sobre os monarcas britânicos).

Veja abaixo algumas curiosidades sobre as cartas, conhecidas como "os memorandos da aranha negra" - uma brincadeira com a caligrafia do príncipe e a tinta preta de muitas das correspondências.

Dominic Lipinski - 14.mai.2013/Reuters
Príncipe Charles cumprimenta sua mãe, a rainha Elizabeth, durante encontro no Palácio de St. James, em maio de 2013
Príncipe Charles cumprimenta sua mãe, a rainha Elizabeth, durante encontro no Palácio de St. James, em maio de 2013

1 - O príncipe "antiquado"

Em uma das cartas, Charles se descreve como alguém com "uma visão muito antiquada (!)", ao abordar o que vê como "deficiência no ensino de história e inglês", que ele mesmo teria identificado nos cursos oferecidos a professores pelo Prince's Teaching Institute (Instituto de Ensino do Príncipe).

Na carta, ao ex-ministro da Educação Charles Clarke, o príncipe diz ter se deparado com a visão "de que os professores não devem atuar como corpos de conhecimento", mas como "facilitadores" ou "treinadores", uma noção que, segundo Charles, seria "difícil de entender".

2 - Soldados sem recursos

Em outra carta, enviada ao então primeiro-ministro, o príncipe disse que o país estava pedindo às Forças Armadas para fazer um trabalho "desafiante" (se referindo aos soldados enviados a guerras no Iraque e Afeganistão), porém "sem os recursos necessários".

Charles se referia ao problema do mau funcionamento dos helicópteros britânicos Lynx, usados na guerra do Iraque e que não funcionavam bem nas altas temperaturas.

"Temo que este é só mais um exemplo de que pedimos às Forças Armadas para executar trabalhos extremamente desafiantes, particularmente no Iraque, sem os recursos necessários", escreve ele.

Um mês depois de receber a carta, Blair respondeu ao príncipe afirmando que achou suas afirmações "construtivas, um chamado à reflexão". Além disso, o ex-primeiro-ministro garantia que as limitações dos helicópteros tinham sido reconhecidas pelo Ministério da Defesa.

3 - Antártida, território britânico

O príncipe Charles também queria que a ex-ministra da Cultura Tessa Jowell permitisse a liberação de fundos para serem usados na preservação de locais de valor histórico no território que a Grã-Bretanha reivindica na Antártida.

Depois de uma conversa com a primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark, em 2005, Charles queria que a Grã-Bretanha ajudasse na conservação das cabanas construídas pelos exploradores Ernest Shackleton e Robert Falcon Scott em suas expedições ao Polo Sul.

Mas as verbas do Departamento de Cultura, Meios de Comunicação e Esportes não podem ser usadas em outros países, por isso o príncipe escreveu que "havia algo chamado 'O Governo do Território Antártico Britânico' que devia significar que há algum território para ser 'governado'" naquela região.

Nesta carta, o príncipe pediu a aplicação de "um pouco de flexibilidade criativa na aplicação destas regras".

4 - Preocupação com peixes e albatrozes

Charles também mostrou preocupação com temas ambientais. Um exemplo é o "lobby" que fez pela merluza-negra, uma espécie de bacalhau de águas geladas, comum no Atlântico Sul, porque a falta da espécie poderia ameaçar aves marinhas como o albatroz.

Em uma carta enviada ao ministro do Meio Ambiente Elliot Morley em 21 de outubro de 2004, o príncipe elogia os esforços do governo para combater a "pirataria e a pesca ilegal".

"Particularmente espero que a pesca ilegal da merluza-negra esteja no topo de sua lista de prioridades porque, até que o comércio seja proibido, há poucas esperanças para os pobres albatrozes", escreveu.

5 - Supermercados X agricultores

Em fevereiro de 2005, Charles voltou a escrever para o então primeiro-ministro Tony Blair, para se queixar da "posição dominante" das grandes redes de supermercados britânicas e o efeito negativo disso sobre os preços, que afetariam pequenos produtores e agricultores locais.

Para ele, este é o "maior problema que afeta os agricultores e a segurança da cadeia alimentar".


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