Folha de S. Paulo


A internet pode prever resultados de eleições?

As pesquisas eleitorais, que já sofriam quando um resultado não se confirmava nas urnas, enfrentam agora um novo desafio: precisam competir com previsões feitas a partir do Google, Wikipedia, Twitter e Facebook.

Nas eleições britânicas do mês que vem, pelo menos dois pesquisadores usarão análises de buscas no Google para fazer previsões eleitorais.

No Brasil, um instituto de pesquisa garante ter acertado o vencedor da eleição presidencial do ano passado por pesquisas feitas no Facebook e Twitter.

Este último também foi usado por pesquisadores americanos para apurar os resultados das eleições para o Congresso em 2010.

A premissa de todos estas pesquisas é a mesma: com a internet disseminada, por que ir atrás de eleitores para perguntar em quem eles vão votar, quando há uma amostra muito maior de pessoas se expressando na internet?

Previsões

Ronald MacDonald, da Universidade de Glasgow, usou o Google Trends - uma ferramenta que mostra tendências de buscas no site - para prever o resultado do plebiscito sobre a independência da Escócia realizado no ano passado.

O estudo previu que o "sim" perderia com 45% dos votos - bem próximo do resultado final (o "sim" teve 44,7%).

Isso foi feito a partir de um método sofisticado de previsão que associava pesquisas tradicionais com buscas na web.

Segundo o pesquisador, quanto mais as pessoas pesquisavam sobre a eleição, mais elas decidiam votar pela permanência do país na Grã-Bretanha. Sabendo disso, ele fez a previsão de votos.

"Estamos tentando fazer algo semelhante para as eleições gerais, mas é muito mais complexo, pois não é uma escolha binária", disse ele à BBC Brasil.

Para ele, no entanto, o método é complementar e não vai substituir as pesquisas tradicionais - até porque precisa delas para ser feito.

Jonathan Bright, cientista político da Universidade de Oxford, também acha que as mídias sociais têm "algum poder de previsão", mas diz que as pesquisas de opinião tradicionais são mais certeiras.

Bright, que pretende analisar como buscas no Google e na Wikipedia influenciam as eleições, diz que, diferentemente das pesquisas tradicionais, nas mídias sociais não é possível saber quem está sendo ouvido. Também sabe-se muito menos como corrigir desvios.

"Quanto mais soubermos sobre como corrigir desvios, será mais provável que previsões usando mídias sociais possam começar a reduzir a necessidade de pesquisas (tradicionais), mas ainda há um longo caminho a ser percorrido e nenhum garantia de que vai dar certo."

Brasil

Já no Brasil, pesquisadores da consultoria AirStrip afirmam ter conseguido prever os resultados da disputa entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) de forma mais precisa que alguns institutos de pesquisa tradicionais na disputa mais acirrada da história.

O método usado é simples de entender: foram monitorados todos os tuítes e postagens no Facebook com declaração de voto. Se a pessoa dizia, por exemplo, "eu vou votar em Aécio" ou "Eu sou Dilma", entrava na conta. Mensagens dúbias não eram contabilizadas.

A três dias da eleição, foram analisados quase 5 mil postagens - 52% a favor de Dilma, 48% de Aécio, mesmo resultado das urnas.

Rafael Arrigoni, um dos diretores da empresa, diz que a pesquisa teve duas grandes diferenças em relação às tradicionais: o grupo pesquisado foi maior e não houve divisão por faixas de população. As pesquisas tradicionais costumam entrevistar parcelas da população (faixas etárias e de renda) que representem o total da população brasileira.

Ele afirma que, por não contar com essas divisões, a pesquisa feita pela agência, atualmente, também serve apenas como ferramenta complementar. Mas diz que seria possível fazer essa diferenciação no futuro.

Mas por que a pesquisa acertou o resultado mesmo sem representar, percentualmente, todos os estratos da população?

Para Rafael, a explicação foi a amostra grande e a polarização da eleição.

Twitter

Nos EUA, pesquisadores da Universidade de Indiana decidiram usar não apenas as declarações de votos no Twitter, mas todas as menções aos candidatos.

Em artigo publicado no Washington Post, o sociólogo Fabio Rojas explica que o buzz eleitoral responde à máxima "falem bem ou falem mal, mas falem de mim".

"Se as pessoas falam de você, mesmo de que forma negativa, é um sinal de que o candidato está prestes a ganhar. A atenção dada aos vencedores cria uma situação em que toda publicidade é boa", afirma.

Usando uma amostra de bilhões de tuítes, ele e outros pesquisadores descobriram 542.969 posts que mencionavam um democrata ou um republicano que concorria ao Congresso em 2010.

Eles calcularam, então, os percentuais de menções por distrito eleitoral e conseguiram acertar o resultado de 404 de 435 disputas.

Possibilidades

Ele lista diversas vantagens de pesquisas feitas pelas redes sociais. A primeira é que elas podem ser úteis em países pobres, onde não há recursos ou credibilidade para realizar levantamentos tradicionais.

Rojas também destaca que as pesquisas, atualmente, são feitas para as grandes disputas, mas em locais mais afastados às vezes não há levantamentos.

Ainda há, porém, um longo caminho até que sejam totalmente confiáveis.

"Elas têm muito ruído - o que faz sentido, já que o Twitter é um lugar de falar. Mas eu espero que possamos analisar as redes sociais e descartar o ruído e o erro para obter medidas mais precisas de opinião política", disse à BBC Brasil.

Bright, de Oxford, também cita a possibilidade de realizar pesquisas onde elas não são feitas tradicionalmente, e acrescenta também assuntos que não são pesquisados tradicionalmente.

Na opinião dele, seria possível "medir opinião pública em novas iniciativas de políticas, sentimento sobre comprar novas casas etc".


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