Folha de S. Paulo


Além de Portugal campeã, Euro mostrou fim do tiki-taka, zebras e que hooligans ainda são um problema

A Eurocopa-2016 terminou neste domingo (10) com o título de Portugal. O campeonato, porém, mostrou muito mais do que isso.

Teve, por exemplo, a eliminação da Espanha nas quartas de final com um futebol bem abaixo daquele que encantou o mundo na Copa de 2010 e na Euro de 2008 e 2012.

Exibiu ainda mais um fracasso da Inglaterra e forças sem tradição no futebol, como Islândia e País de Gales.

"A Eurocopa mostrou que há muitas seleções com nível semelhante", disse PVC, colunista da Folha.

Além de astro, Cristiano Ronaldo é um capitão

Os flagras de Cristiano Ronaldo vendo sua imagem refletida em telões de estádios mundo afora ajudaram a difundir o estigma de craque egocêntrico, vaidoso e egoísta. Há quem conviveu com o atacante, caso do brasileiro Deco, que conteste a versão. Fato é que apesar da fama, o atacante virou capitão de Portugal. Uma imagem, a do gajo convencendo o lesionado e abatido Moutinho a cobrar o pênalti contra a Polônia, mostrou o astro como líder do time. No fim das contas, ele ergueu o troféu de campeão do torneio.

Opinião do Curro
"Cristiano Ronaldo continua o centro das atenções. O três vezes melhor jogador do mundo fez e aconteceu na Euro, do início ao fim. Criticou a 'retranca' da Islândia, errou pênalti contra a Áustria, atirou microfone de repórter em um lago, foi decisivo (dois gols) diante da Hungria, animou colega sem confiança a bater pênalti ante a Polônia, venceu esperado duelo com Bale e, na final, saiu machucado no início, chorando de dor –chorou também no fim, de alegria".

Veja vídeo

O fim do tiki-taka espanhol

Após o fracasso da Copa de 2014, Vicente del Bosque foi mantido no cargo de técnico da Espanha. Campeão do mundo de 2010 e da Euro de 2008 e 2012, propôs uma transição de geração. Jogadores mudaram, Xavi se aposentou da equipe nacional e Casillas perdeu lugar no time para De Gea. O técnico manteve, porém, o estilo de jogo –o chamado "tiki-taka", com domínio de posse de bola e trocas de passes precisos. O efeito já não era o mesmo nos adversários. A seleção espanhola até venceu os dois primeiros jogos, contra República Tcheca e Turquia, mas perdeu para a Croácia, na primeira fase. Quando o mata-mata começou, não adiantou ter 59% de posse de bola e dar 539 passes contra a Itália, que fez dois gols e eliminou os espanhóis. Del Bosque, então, pediu para sair.

Martin Bureau/AFP
Sergio Ramos lamenta eliminação da Espanha
Sergio Ramos lamenta eliminação da Espanha

O 3-5-2 voltou forte

Fora de moda durante os últimos anos na Europa, o 3-5-2 (para quem não lembra, o esquema usado por Felipão na Copa de 2002) foi utilizado por seleções que tiveram algum sucesso no torneio. Caso da Itália, por exemplo. Com um time não lá muito empolgante, sem nenhum craque, o técnico Antonio Conte usou a estrutura da Juventus, com os três zagueiros Barzagli, Bonucci e Chiellini. Ele não foi o único a escalar um trio de defensores. Os semifinalistas País de Gales, com o trio James Chester, Ashley Williams e Ben Davies, e até a Alemanha montaram seus times assim. Nas quartas de final, contra a Itália, o técnico Joachim Löw armou um paredão na frente de Neuer com Hummels, Boateng e Höwedes.

'Zebras' em alta

A 'zebras' andaram soltas nesta Eurocopa. Que o diga Islândia e País de Gales. Os islandeses terminaram a primeira fase na segunda colocação do grupo F, à frente de Portugal e atrás de outra zebra (Hungria). Os húngaros foram eliminados nas oitavas de final, mas a Islândia, um país que tem apenas cerca de 320 mil habitantes, avançou às quartas ao eliminar a Inglaterra. Só parou diante da França. Já País de Gales, do atacante Gareth Bale, foi ainda mais longe. Em sua primeira Eurocopa, se classificou para a semifinal, só não foi páreo para Portugal. De qualquer maneira, as duas seleções foram recebidas com uma grande festa em seus países.

Opinião do Juca
"O melhor legado, fora do gramado, desta Euro foi o comportamento da torcida da Islândia, que deixou até para os anfitriões franceses um novo jeito de torcer, ao estilo viking".

Bai Xuefei/Xinhua
Jogadores da Islândia festejam vitória sobre a Inglaterra
Jogadores da Islândia festejam vitória sobre a Inglaterra

Futebol europeu dá audiência na TV... E a Globo entendeu isso

Sem jogos da seleção brasileira, eliminada na Copa América, a Globo abriu a grade para a Eurocopa a partir das oitavas de final. Escalou Galvão Bueno, seu principal narrador, para a final do torneio e até pediu a mudança da data do jogo do Corinthians, que foi para o sábado. Tudo para transmitir em TV aberta a decisão entre Portugal e França, às 16h, no domingo. SporTV, canal a cabo do Grupo Globo, e a Band também exibiram os jogos do torneio. A emissora do grupo Bandeirantes comemorou os números de audiência obtidos com as transmissões dos jogos europeus.

Os hooligans ainda preocupam

Quase sempre com um copo de cerveja nas mãos, os hooligans mostraram uma grande disposição para arrumar confusão nesta Euro. Logo no primeiro dia da competição, a polícia francesa teve que usar gás lacrimogêneo para intervir em confrontos entre torcedores ingleses e moradores locais na cidade portuária de Marselha. No dia seguinte, ingleses e russos brigaram tanto fora como dentro do estádio. Socos e pontapés foram trocados entre as duas torcidas no estádio Vélodrome. A Uefa chegou a avisar que a Rússia seria excluída do campeonato em caso de novos incidentes com torcedores.

A Inglaterra e seus fracassos

A Inglaterra possui um punhado de grandes talentos, como Sterling, Kane, Rooney e Vardy, mas, mesmo assim, não consegue se encontrar. Nesta Euro, mais um fracasso. Não passou das oitavas de final. E foi eliminada pela Islândia, uma seleção sem expressão nenhuma no cenário do futebol mundial. E faz tempo que o futebol inglês não brilha. Na Copa do Mundo de 2014, por exemplo, nem passou da primeira fase. Na Eurocopa de 2012, ficou nas quartas. Em 2008, nem esteve presente no torneio continental. A derrota para a Islândia provocou até a saída do técnico Roy Hodgson. E agora, quem poderá ajudar esta Inglaterra?

Opinião do PVC
"O mais interessante desta Eurocopa foi o equilíbrio. Europa mostrou que há muitas seleções com nível semelhante e que futebol é cada vez mais coletivo".

Paul Ellis/AFP
Jogadores da Inglaterra lamentam eliminação na Euro
Jogadores da Inglaterra lamentam eliminação na Euro

A Bélgica e suas desilusões

A Bélgica não tem as mesmas tradições da Inglaterra, mas possui, hoje, talvez a sua melhor geração de jogadores. Conta com jogadores como Courtois, Nainggolan, Witsel, De Bruyne e Hazard. A seleção do país ocupa a segunda posição do ranking da Fifa, atrás apenas da Argentina, e à frente até da Alemanha, mas quando o negócio é para valer as coisas mudam. Na Copa de 2014, por exemplo, caíram nas quartas. Na Euro, pararam na mesma fase. Perderam por 3 a 1 para País de Gales. E saíram sem mostrar o porquê realmente estão na vice-liderança do ranking da Fifa.

A França

Desde que Zidane deixou a seleção francesa, os torcedores nunca viram uma geração de jogadores tão talentosa como essa. Pogba, Kanté, Matuidi, Giroud, Griezmann, Martial... Esses são alguns nomes do forte time francês, que é comandado pelo técnico Didier Deschamps, capitão do título mundial de 1998. Em sete jogos nesta Euro, o time venceu cinco partidas e teve a melhor média de gols do campeonato (1,86). Só faltou o título.

Opinião do Juca
"Dentro de campo, com as inevitáveis lesões musculares típicas de fins de temporada, ficaram as avaliações apressadas sobre o desempenho, por exemplo, da Alemanha, como se a derrota para a França as permitisse. Mais uma vez os detalhes foram esquecidos, embora fossem muitos. Sem Hummels, suspenso, e sem Khedira e Mario Gomez, com lesões musculares, os alemães sofreram e mesmo assim dominaram a França, que teve a seu favor uma grande atuação do goleiro Lloris e dois erros incomuns: o do capitão Schweinsteiger, que fez um pênalti bizarro no primeiro gol, e do melhor goleiro do mundo, Neuer, que deu um soco fraco numa bola fácil no segundo. Mata-mata é isso, um jogo permite resultados anormais, embora não permita conclusões definitivas, sem desmerecer a bela seleção francesa, empurrada também por uma torcida que levanta os mortos ao cantar a Marselhesa".

Philippe Lopez/AFP
Jogadores da França antes da final contra Portugal
Jogadores da França antes da final contra Portugal

Endereço da página:

Links no texto: