Colocado por muitos na lista de favoritos para a disputa do Brasileiro deste ano, o Palmeiras do técnico Cuca tem oscilado bastante. Em quatro jogos, foram duas vitórias e duas derrotas. Além dos resultados, a performance em campo tem variado consideravelmente de um jogo para outro: depois de ter estreado com goleada contra o Atlético-PR, perdeu para a Ponte Preta na rodada seguinte apresentando falhas primárias e futebol burocrático. Contra o Fluminense, jogou mal no primeiro tempo e recuperou-se no segundo. Neste domingo (29), contra o São Paulo, mostrou poder ofensivo nos primeiros dez minutos, mas pouco fez depois de sofrer um gol.
Diversos fatores confluem para que a equipe não consiga repetir seus melhores momentos a ponto de conseguir uma sequência positiva. Há motivos táticos, como a postura em jogos fora de casa e a falta de marcação no ataque, assim como razões externas, como as seguidas lesões de titulares. Veja abaixo alguns deles.
Visitante conveniente
Na vitória contra o Fluminense no Allianz Parque, o irmão de Cuca e treinador interino na ocasião, Cuquinha, disse que a equipe do Palmeiras precisava aprender a jogar fora de seus domínios.
"Com a gente [Cuca], o Palmeiras fez quatro jogos no Allianz Parque e não tomou gol. Temos que achar o meio-termo para jogar fora de casa, porque aqui [no estádio] estamos correspondendo", disse.
No entanto, a derrota para o São Paulo no Morumbi foi a sexta fora de casa desde a chegada de Cuca ao Palmeiras.
No Atlético-MG, o treinador passou por problema parecido. Entre 2011 e 2013, ele disputou 77 jogos em estádios de adversários, e teve 24 vitórias, 19 empates e 34 derrotas, com aproveitamento de 39,4%. As derrotas fora de casa e as reviravoltas no estádio do Horto renderam àquele time o apelido de "Galo Doido", que viria a conquistar a Libertadores. No entanto, a "doidice" não costuma funcionar em campeonatos de pontos corridos.
Julia Chequer - 2.set.2012/Folhapress | ||
O técnica Cuca em 2012, quando comandava o Atlético-MG |
"Atacar marcando"
Após a derrota para o São Paulo, o atacante Alecsandro disse que o Palmeiras falhou ao não "atacar marcando":"é trabalhar durante a semana, entender um pouquinho mais que a gente tem que atacar marcando, ou seja, atacar e não dar espaço para o adversário, para que a gente possa fazer o gol".
Quando o Palmeiras acertou o fundamento, saiu com a vitória. Foi assim contra o Corinthians, no Paulista, e também contra o Fluminense.
Fora do Allianz Parque, o time tem tido dificuldades em acertar essa marcação. Contra o São Paulo, Bruno e Kelvin tiveram liberdade para tabelar da defesa ao ataque até o lateral cruzar a bola para Ganso fazer o único gol da partida.
Jorge Araujo - 10.mai.2016/Folhapress | ||
O técnico Cuca, do Palmeiras |
Meio-de-campo
Com Cleiton Xavier à frente de Matheus Sales e Jean e armando jogadas para Róger Guedes, Gabriel Jesus e Barrios, o Palmeiras fez sua melhor partida no Brasileiro, na estreia em que goleou o Atlético-PR por 4 a 0. No entanto, diante da impossibilidade de escalar Cleiton Xavier em todos os jogos, Cuca não tem conseguido encontrar alternativas satisfatórias. Moisés ainda não está em plena forma física, e com Dudu, como o técnico analisou após a derrota para o São Paulo, o time erra muitos passes na "meia cancha" e dá contra-ataques ao adversário. Além disso, por carregar muito a bola, Dudu tende a deixar um buraco entre o ataque e a linha de volantes, espaço que o adversário aproveita para iniciar a construção de jogadas. Em entrevista à Folha, o técnico disse que gostaria de mais um meia no elenco.
Robson Ventura - 3.abr.2016/Folhapress | ||
Dudu comemora gol sobre o Corinthians |
Desfalques
Como em anos anteriores, o Palmeiras tem sofrido com desfalques por lesão, e Cuca não tem conseguido repetir escalações desde o início do Brasileiro. Até o momento, o treinador sentiu a ausência de Barrios, Egídio, Matheus Sales, Cleiton Xavier e Dudu, que naturalmente seriam titulares. Entre os reservas, Edu Dracena e Arouca também têm ficado de fora devido a lesões, além do volante Gabriel, que só deve voltar em cerca de quatro meses.
Além disso, o time pode perder o atacante Gabriel Jesus, que deve ser convocado para disputar a Copa América pela seleção brasileira em caso de corte de Rafinha, que se recupera de lesão. O técnico já dá o desfalque como quase certo e lamenta.
Ricardo Nogueira - 4.set.2015/Folhapress | ||
O meia Cleiton Xavier durante treinamento do Palmeiras |
Banco não corresponde
Os jogadores reservas que têm recebido oportunidades de Cuca não têm apresentado performances convincentes. Rafael Marques entrou em campo contra Ponte Preta e São Paulo; Zé Roberto, idem. O atacante pouco participou, ao passo que Zé Roberto falhou diversas vezes na marcação contra o rival no Morumbi, além de ter sofrido dribles desconcertantes de Kelvin. Apesar de ter um elenco com grande número de opções, nem todas elas têm funcionado. A exceção foi Moisés, que teve boa participação ao entrar no intervalo contra o Fluminense. Alecsandro também foi bem na ocasião, mas esteve abaixo da média contra o São Paulo
Ricardo Nogueira - 13.mar.2016/Folhapress | ||
Zé Roberto tenta marcar Rogério na partida contra o São Paulo |
Perigo aéreo
Dos três gols sofridos no Brasileiro, dois foram de cabeça (um da Ponte Preta, outro do São Paulo). Mas mais do que isso, o goleiro Fernando Prass tem feito defesas de alto grau de dificuldade. Sem elas, o número seria bem maior.
Contra o Fluminense, Fred apareceu livre de marcação para cabecear em duas ocasiões: na primeira, errou o alvo; na segunda, Prass espalmou. Contra o São Paulo, foram ao menos duas defesas em bolas alçadas na área no segundo tempo: uma diante de Centurión, outra de Maicon.
Além das falhas dos zagueiros, especialmente de Thiago Martins, os laterais e atacantes têm dado muito espaço para os jogadores adversários executarem cruzamentos na área do Palmeiras.
Ricardo Nogueira - 24.abr.2015/Folhapress | ||
Thiago Martins marca Ricardo Oliveira em partida contra o Santos |
Poder de reação
Quando saiu à frente no placar (contra Atlético-PR e Fluminense), o Palmeiras venceu. Quando saiu perdendo (Ponte Preta e São Paulo), saiu com a derrota. Quando sofre um gol, a equipe tem se desorganizado em campo e não mostra poder de reação. Contra o São Paulo, teve chances claras de fazer gols nos primeiros 10 minutos. Depois de perdê-las e ver Ganso abrir o placar, desnorteou-se e pouco fez no resto do jogo.