Folha de S. Paulo


Entenda a desavença entre governo e PT em cinco itens

A reportagem "Fala de Jaques Wagner acentua mal-estar entre PT e governo", publicada pela Folha nesta terça-feira (5), causou confusão em alguns leitores ao diferenciar governo federal e PT.

"Não estou entendendo essa distinção da Folha entre PT e governo. O PT é governo, o governo é PT! Dilma, Nelson Barbosa e Jaques Wagner são petistas!", escreveu Maurício Morais Tonin, procurador do município de São Paulo, ao Painel do Leitor.

O governo é sim de responsabilidade da presidente petista Dilma Rousseff, sucessora de Lula. Reflete, portanto, políticas e decisões distintas das que seriam propostas em eventual governo de Marina Silva (Rede) ou Aécio Neves (PSDB), para ficar só nas alternativas que tentaram se concretizar recentemente.

O governo porém, tem que lidar com conflitos internos diferentes dos que correm dentro do Partido dos Trabalhadores. Além da legenda de Dilma, outras oito siglas estão presentes na Esplanada. O Brasil tem ministros do PMDB, PSD, PR, PP, PC do B, PDT, PRB e PTB –todos compõem o governo. Isso sem falar nos ministros que não são formalmente filiados a um partido, como é o caso do novo titular da Fazenda, Nelson Barbosa.

Além disso, o PT da era Dilma é mais fraco no Congresso, em comparação com o PT da era Lula. Para compensar, o bloco da sucessora depende de grande número de partidos com perfis distintos, o que dificulta a definição de uma pauta pelo Executivo.

Quando as decisões seguem a preferência de aliados e vão contra a política defendida por líderes petistas, surgem rusgas PT-governo. Como a sigla é o pilar mais firme que resta à governante –que se indispôs com aliados, com o vice-presidente e com a opinião pública–, convém dar atenção às ocasiões que abalam relação entre Dilma e seu partido.

Confira cinco conflitos que ajudam a distinguir o governo da legenda que governa:

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1 - QUEDA DE BRAÇO NA ÁREA ECONÔMICA

Nelson Barbosa sofre pressão de dois lados. De um lado, há o mercado financeiro e, do outro, está o fogo amigo petista. Setores ligados à oposição tendem a reforçar a necessidade de grandes cortes enquanto alguns petistas, como o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), pregam uso das reservas internacionais para financiar obras e investimentos. A cúpula do PT quer baixar os juros para liberar linha de crédito e defende uma "guinada à esquerda" da política econômica de Dilma, mas tem reclamado nos bastidores de estar sendo "enrolada" pela presidente.

2 - XÔ, CARDOZO

O PT e seus aliados atingidos pelas operações Lava Jato e Zelotes acusam internamente o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de não controlar a Polícia Federal. Próximo da presidente Dilma, que o mantém no cargo apesar de reclamações, Cardozo assume ter perdido amigos e ganhado inimigos à frente da pasta. O coro de descontentes foi recentemente engrossado pelo PMDB do Senado, que sonha em emplacar um nome da sigla para tentar influir nas investigações.

3 - CRIADOR VERSUS CRIATURA

Lula foi um dos principais entusiastas da substituição do ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, a quem responsabilizava por fazer apenas acenos ao mercado. Lula já fazia críticas reservadas ao estilo Dilma de governar desde antes das eleições. Naquela época, porém, a preocupação era que Dilma estivesse "divorciada" da classe empresarial, não do eleitorado de esquerda. Lula também se preocupava com a interlocução do governo com os aliados na Câmara. Em 2014, os atritos entre Dilma seu mentor fomentaram um movimento chamado "volta, Lula" –campanha velada pelo retorno do ex-presidente à cédula eleitoral daquele ano. Para acalmar a situação, o ex-presidente chegou a dizer publicamente que "é perfeitamente possível criador e criatura viverem juntos".

4 - CABO DE GUERRA NA REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Depois que o governo anunciou, há menos de um mês, que enviará ao Congresso uma proposta de reforma da Previdência, o PT emitiu nota em que criticava a iniciativa. A ideia do Executivo é alterar os requisitos de idade para a aposentadoria para ajudar a fechar as contas públicas. O rombo da Previdência foi de R$ 56,7 bilhões em 2014 e será maior em 2015. Sobre o embate PT-governo nessa questão, Jaques Wagner, Chefe da Casa Civil, afirmou : "O PT não é necessariamente refém em tudo do governo, está expressando um pouco o que os movimentos sociais falam."

5 - EMPREGADOR E EMPREGADO

A livre negociação de questões trabalhistas entre empregador e empregados, embora não tenha sido publicamente encampada por Dilma, foi uma medida aventada pela Fazenda. O PT sempre foi contra a flexibilização das normas atuais, pois teme a perda de direitos dos trabalhadores.


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