As agressões físicas entre parlamentares ocorridas esta semana em Brasília chamaram a atenção no noticiário, mas não são um fato exatamente raro na política. A violência legislativa é uma prática antiga, sendo que o mais famoso episódio do tipo data de 44 a.C. —o assassinato de Júlio César por membros do Senado, na Roma Antiga.
O próprio Senado brasileiro já foi palco de um homicídio quando Arnon de Mello, pai do atual senador Fernando Collor de Mello, atirou contra o também representante alagoano Silvestre Péricles, que havia prometido matá-lo. O segundo disparo de Arnon acertou José Kairala, que não tinha nada a ver com a briga e morreria horas depois no hospital, em 4 de dezembro de 1963.
Quatro anos depois, os deputados Estácio Souto Maior (pai do piloto Nelson Piquet) e Nelson Carneiro trocaram tiros no saguão do Congresso —o primeiro ficou ferido.
Nem o Capitólio de Washington, símbolo da democracia americana, permaneceu isento de pancadaria: em 1856, o congressista Preston Brooks golpeou Charles Sumner com um bastão até deixá-lo inconsciente. Era um debate sobre escravidão.
Confira, a seguir, algumas das casas legislativas mais briguentas do mundo.
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Ucrânia
A profunda divisão entre pró-europeus e pró-russos frequentemente transforma o Parlamento ucraniano em um grande ringue. Seja a votação do orçamento, seja por rixas pessoais, raramente os legisladores passam seis meses em Kiev sem recorrer às vias de fato.
Em maio de 2012, o confronto generalizado ocorreu por causa de um projeto que permitia o uso da língua russa em algumas regiões do país —hoje dividido justamente por separatistas pró-Moscou.
Sergei Supinsky - 13.dez.2012/AFP | ||
Deputados trocam socos em plenário do Parlamento ucraniano pelo segundo dia seguido; sessão era a segunda após a nova composição da casa |
Taiwan
Se há uma casa legislativa que possa rivalizar com a de Kiev em pugilismo, ela fica em Taiwan. O Yuan Legislativo, como a câmara é chamada, ganhou até um reconhecimento oficial em 1995, o Prêmio IgNobel da Paz (paródia do Nobel) —"por demonstrar que políticos ganham mais em socar, chutar e arranhar uns aos outros do que ao promover a guerra contra outras nações", segundo os promotores da "láurea".
Abaixo, legisladores tentam bloquear mesa da plenária em votação sobre a revisão de um imposto, em 2013.
25.jun.2013/AFP | ||
Legisladores do Kuomitang (partido governista) e opositores brigam para bloquear votação |
Coreia do Sul
A Assembleia Nacional em Seul é outra mais famosa pelos embates físicos do que pelos retóricos. Abaixo, parlamentares sul-coreanos brigam durante o anúncio do impeachment do então presidente Roh Moo-hyun, em 2004 (a decisão foi derrubada depois pelo Judiciário).
Bolívia
Em 2007, a votação pela abertura de um processo contra quatro magistrados do Tribunal Constitucional, a corte mais alta do país, resultou em socos, pontapés e móveis quebrados na Câmara, em La Paz. O processo, defendido por Evo Morales e legisladores governistas, foi aberto.
22.ago.2007/Reuters | ||
Deputados bolivianos brigam durante sessão na Câmara em La Paz, na Bolívia |
Índia
Um voto de confiança na câmara do Estado de Uttar Pradesh, na Índia, se transformou em uma batalha campal em 1997. Microfones e pedaços da mobília serviram de munição e voaram de um canto a outro da sala ao longo da discussão, na cidade de Lucknow. Uttar Pradesh é o Estado mais populoso da Índia, que, por sua vez, é a maior democracia do mundo e não raro palco de cenas semelhantes. Uma outra discussão (veja aqui ), na câmara de Maharashtra, começou devido à recusa de um parlamentar em prestar um juramento na língua local.