Após sete anos, a comunidade japonesa no Brasil volta a receber membros da família imperial. O príncipe Akishino, segundo na linha de sucessão do trono, chegou a São Paulo na manhã desta quarta-feira (28), acompanhado de sua mulher, a princesa Kiko, para uma visita de 11 dias por dez cidades. A visita faz parte dos 120 anos do tratado de amizade entre Brasil e Japão, que estabeleceu as relações diplomáticas bilaterais.
A última recepção brasileira à família imperial foi em 2008, quando o príncipe herdeiro Naruhito, 55, acompanhou as cerimônias do centenário da imigração japonesa. Seu irmão mais novo, Akishino, 49, não vinha ao país desde 1988. Como as visitas são esporádicas, a presença da família imperial é um acontecimento importante para os japoneses e seus descendentes no Brasil (cerca de 1,9 milhão de pessoas).
Nos tópicos abaixo, entenda a importância simbólica da Casa Imperial japonesa, como ela resistiu aos séculos e os rituais que a população deve observar diante de um membro da família.
1- Imperador, o símbolo do Estado
Toru Hanai - 11.mar.2015/AFP | ||
O premiê do japão Shinzo Abe (à esq.), se curva ao imperador Akihito e à imperatriz Michiko, em cerimônia de homenagem às vítimas do tsunami de 2011 |
Segundo o artigo 1º da Constituição japonesa, o imperador é o "símbolo do Estado e da unidade do povo". Trata-se de uma figura cerimonial, dando posse ao primeiro-ministro ou dissolvendo o Parlamento, mas não tem representatividade política –não é chefe de governo nem de Estado.
2- Um país sem imperatrizes
O trono passa para o primogênito do imperador. Se ele não tiver um herdeiro homem, assume seu irmão mais novo, e assim por diante. Mulheres são excluídas da linha sucessória. O Japão já discutiu uma mudança na lei sucessória pelo fato de o príncipe herdeiro, Naruhito, ter apenas uma filha, Aiko, nascida em 2001. O debate perdeu força com o nascimento, em 2006, de Hisahito, filho de Akishino, que passou a ser o terceiro da sucessão.
3- A mais antiga monarquia
29.set.2015/AFP | ||
O imperador Akihito e a imperatriz Michiko passeiam nos jardins do palácio imperial, em Tóquio |
A monarquia japonesa é considerada a mais antiga do mundo ainda existente. Segundo a tradição, o primeiro imperador foi Jimmu (660-585 a.C). O atual, Akihito, 81, é o 125º a ocupar o trono. O mais longevo foi seu pai, Hirohito, que ocupou o trono de 1926 até sua morte, em 1989. O crisântemo, flor comum no Japão, é o símbolo da família imperial e representa longevidade. A flor estampa a capa dos passaportes dos japoneses.
4- Filhos da deusa do Sol
1946/AFP | ||
Imperador do Japão, Hirohito, ao lado da imperatriz Kuni Nagako, em foto de 1946, quando ele já havia perdido o status de divindade |
Pela tradição da religião xintoísta, acredita-se que o primeiro imperador, Jimmu, descendia de Amaterasu (deusa do sol). Por isso, todos os monarcas seguintes passaram a ser reverenciados como figuras divinas. Essa condição era oficialmente reconhecida no Japão até o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a derrota militar e a consequente ocupação americana obrigaram o imperador a aceitar sua mudança de título de "soberano imperial" para "monarca constitucional". Em um discurso em 1946, o então imperador Hirohito anunciou: "Não sou mais divino; sou um humano."
5- Família sem sobrenome
18.fev.2012/AFP | ||
Em 2012, japoneses escrevem o nome do imperador Akihito em cartas para lhe desejar recuperação de uma cirurgia cardíaca |
Os membros da Casa Imperial historicamente não possuem sobrenome. Como não há registro de troca de dinastia desde o início do império, ter um nome que identificasse a família nunca foi necessário.
6- Os nomes que terminam em "hito"
Junji Kurokawa-13.mar.2013/Reuters | ||
O príncipe Hisahito indo para a escola; ele é o mais novo membro imperial a ter um nome terminando em "hito" |
Hirohito, Akihito, Naruhito... os nomes de imperadores e príncipes japoneses têm em comum a terminação "hito". Embora seja conhecido como Akishino (uma espécie de título conferido ao príncipe), o filho mais novo de Akihito em visita ao Brasil se chama Fumihito. O ideograma para a terminação "hito" tem o significado de afeição, amor, pessoa virtuosa, respeitosa. O primeiro imperador a recebê-la foi Seiwa (século 9º), que passou a se chamar Korehito.
7- Permissão para conversar
Embora tenha perdido o caráter divino, a família imperial é uma instituição pela qual os japoneses têm grande respeito. Em qualquer evento público com um membro da família, nenhum cidadão pode lhe dirigir a palavra, a não ser que o imperador, os príncipes ou princesas iniciem uma conversa. Também é proibido oferecer ao membro da família cartões de visita. Essas orientações foram passadas nos convites recebidos por integrantes da comunidade japonesa que poderão acompanhar as cerimônias com o príncipe e a princesa Akishino.
8- Os anos dos imperadores
Yoshikazu Tsuno - 3.dez.2014/AFP | ||
Funcionária de joalheria em Tóquio exibe um calendário de 2015 feito de platina |
No Japão, as pessoas costumam se referir a um determinado ano de acordo com o tempo de reinado do imperador. Por exemplo, 2015 é Heisei 27, pois se trata do 27º ano da era Heisei, iniciada quando o imperador Akihito assumiu o trono (8 de janeiro de 1989). Se perguntar a alguém de 1950 quando ele nasceu, provavelmente dirá Showa 25, pois foi o 25º ano da era Showa, que correspondeu ao reinado de Hirohito.