Folha de S. Paulo


7 índices da economia que explicam por que você está se sentindo mais pobre (e talvez esteja mesmo)

Pedro Ladeira/Folhapress
O ministro da Fazenda Joaquim Levy, no centro, e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa
O ministro da Fazenda Joaquim Levy, no centro, e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa

Um dia você foi ao supermercado e pensou que aquela loja tinha perdido a noção ao subir tanto o preço da manteiga.

Tentou outra rede e lá o tablete também estava custando mais. Aí a conta de luz chega visivelmente mais salgada e você se pergunta onde é que o dinheiro do mês foi parar.

A conclusão é uma só: a inflação voltou. Mas há muito mais do que o encolhimento do que sobra do seu salário depois dos gastos do mês para fazer você se sentir mais pobre.

Veja abaixo 7 indicadores econômicos que mostram por que muitos brasileiros têm sentido que a vida está mais difícil:

1 - Redução da meta fiscal do governo

Um sinal recente claro de que a economia está desacelerando é a redução da meta fiscal do governo, anunciada nesta quarta-feira (22).

Com a recessão econômica, que afeta a arrecadação de tributos, o governo tem encontrado dificuldades para fazer a economia prometida para manter a dívida pública sob controle.

Contas em desequilíbrio

A economia prometida pelo governo no final do ano passado, para 2015, era de R$ 66,3 bi, ou 1,1% do PIB.

Nesta quarta (22), o governo revisou essa meta e prometeu economizar R$ 8,747 bilhões, ou 0,15% do PIB.

Superavit menor

Mesmo com o abatimento da meta, um novo bloqueio de gastos para atingir o percentual de economia ficará em R$ 8,6 bilhões.

Isso deverá significar esforço por parte da população —tanto por meio de aumento dos impostos a serem pagos, quanto por meio de cortes de gastos (que significam conter os reajustes das aposentadorias pagas pelo INSS, reduzir a oferta de serviços de saúde etc.).

O texto que será enviado ao Congresso, no entanto, terá uma cláusula de abatimento da meta, se as expectativas de receita não forem cumpridos. Ou seja, se necessário, a economia prometida será reduzida.

2 - Projeção de PIB para 2015 cada vez menor

A redução da meta fiscal pode ser considerado um resultado direto da piora sobre a expectativa para o PIB (Produto Interno Bruto), que agrega toda a riqueza gerada pelo país em um determinado período.

Segundo economistas consultados pelo Banco Central na pesquisa Focus, o PIB brasileiro encolherá 1,7% neste ano.

Projeções para o PIB de 2015

E a estimativa vem piorando semanalmente, puxada não só por fatores internos, mas também por externos, como a desaceleração da economia chinesa, principal destino de produtos no país.

Apesar de bem maior do que a perspectiva brasileira, a meta do governo chinês de crescer 7% neste ano representa uma mudança de patamar —o crescimento de 7,4% em 2014 já foi o menor desde 1989.

Infográfico PIB Chinês

3 - Inflação

Com o avanço da inflação, até mesmo a loteria pesou no bolso. Com um ajuste de 71%, o preço da aposta mínima da Mega-Sena foi de R$ 2,50 para R$ 3,50 em junho.

É fichinha perto do aumento da tarifa de energia, que em 12 meses foi de 75% em média para clientes da Eletropaulo, que atende a região metropolitana de São Paulo.

O índice oficial de inflação, o IPCA, está em 8,89% em um período de 12 meses terminado em junho.

Isso significa que, se o reajuste do seu salário ficar abaixo desses 8,89%, você não acompanhará o aumento geral dos preços e ficará mais pobre neste ano.

Inflação em 12 meses

Não são só fatores internos que explicam o avanço da inflação. O dólar alto (vide item 7) torna mais caro importar produtos para abastecer o mercado interno, seja diretamente nas lojas, seja com peças ou insumos para a fabricação, por exemplo.

Pausa para uma boa notícia

O desaquecimento da economia faz com que nem tudo tenha, no entanto, aumento. Segundo o Secovi-SP (sindicato do setor imobiliário em São Paulo), novos contratos de aluguel estão sendo fechados a preços abaixo do IGP-M, o índice de inflação que serve como base para os reajustes no setor.

Em junho, o índice não só ficou abaixo da inflação como teve ajuste negativo. Os novos contratos saíram por valores 1% menores pela primeira vez.

Ao observar o gráfico abaixo, veja a diferença entre a inflação pelo IGP-M (linha vermelha) e os novos contratos de aluguel (linha laranja). Quanto maior o espaço entre a linha da inflação e a dos novos aluguéis, mais barato, em relação aos outros gastos, fica alugar uma residência em São Paulo.

Para quem estiver com dinheiro sobrando, pode valer a pena investir em uma mudança. Mas quem está com dinheiro sobrando mesmo?

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4 - Renda média do trabalho dá sinais de queda

A desaceleração da economia dá, desde março, as primeiras mostras de impacto sobre o rendimento médio, segundo pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, que considera todos os Estados do Brasil.

Infográfico Rendimento médio descontada a inflação - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

Segundo o IBGE, esse é um dos fatores que explicam o aumento do desemprego.

5 - Desemprego em alta

A queda na renda e o avanço da inflação ajudam a pressionar o índice de desemprego. Se a renda da família caiu e o dinheiro está valendo menos, quem ficava fora do mercado agora precisa colaborar para manter o padrão de vida.

Segundo o IBGE, 1,566 milhão de pessoas entraram no mercado de trabalho no trimestre encerrado em maio.

Desse total, apenas 297 mil encontraram emprego, o que elevou o índice de desemprego para 8,1%, segundo a pesquisa Pnad Contínua.

Apenas as pessoas que buscam emprego são contabilizadas no índice dos desocupados —se você não tem trabalho, mas também não está buscando um, não é contabilizado como desempregado.

Infográfico Taxa de desocupação no Brasil

Esse contingente de pessoas buscando emprego está, no entanto, esbarrando em um mercado que está enxugando vagas formais desde abril.

É isso que indicam os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregos), do Ministério do Trabalho, que leva em consideração apenas os empregos com carteira assinada.

De abril até junho foram cortadas 315,57 mil vagas com carteira assinada, segundo dados do Ministério do Trabalho.

Infográfico Saldo de vagas com carteira assinada, em mil - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

No primeiro semestre, sofreram mais o comércio, a indústria da transformação e a construção civil, segundo o Caged.

Infográfico Saldo do semestre por setor, em mil - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

Na lista dos Estados em que mais houve perda de vagas com carteira assinada, São Paulo aparece no topo, com 52.286 postos a menos no semestre.

A queda contribui para puxar o saldo negativo de postos de trabalhos no Sudeste, o maior de todas as regiões. Apenas o Sul teve criação de vagas no último semestre.

Infográfico SALDO DE VAGAS NO SEMESTRE, EM MIL - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

6 - Grana curta, crédito caro

Para controlar a inflação o Banco Central subiu a taxa básica de juros da economia para 13,75% ao ano.

É o principal fator que define o quanto os bancos vão pagar para pegar o dinheiro emprestado que, mais tarde, vão emprestar para consumidores e empresas.

Evolução da taxa Selic

Ato contínuo, bancos elevam a taxa cobrada.

Comprar parcelado deixa de ser uma opção. Sim, antes você comprava parcelado e gastava um pouco mais todo mês. Precisando controlar os gastos e com a inflação subindo, a prestação quase não cabe mais no bolso. Melhor deixar para depois.

7 - Dólar nas alturas

O panorama de crise tem aumentado a cotação do dólar em relação ao real, agravado nesta quinta-feira (23) pela redução da meta fiscal, que foi mal recebida pelo mercado.

Escalada do dólar

A crise política, coroada recentemente pelo rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com o governo, aliada à dificuldade do ministro da Fazenda Joaquim Levy de implementar os ajustes nas contas contribuem para a alta da moeda.

Também entram na conta fatores externos. A desaceleração chinesa (veja o item 1) também entra na conta, assim como a perspectiva de que o banco central americano (Fed) aumentará seus juros.

Outro fator é a crise grega, que tem tido o efeito de aumentar a desconfiança de moedas de países emergentes como um todo.

O impacto da alta do dólar pode ser observado claramente na queda dos gastos dos brasileiros no exterior, que foram 20,2% menores no semestre.

Gastos do brasileiro no exterior, jun.15


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