Folha de S. Paulo


6 pontos que afetam a economia do Brasil neste mês dentro e fora do país

Do outro lado do Pacífico, incertezas sobre a economia chinesa —cujo mercado acionário passa, segundo alguns economistas, por uma bolha de crescimento insustentável— ameaçam o destino de um quinto dos produtos do Brasil.

Enquanto isso, no coração da América do Norte, decide-se se os Estados Unidos aumentarão seus juros, o que desvalorizaria o real frente ao dólar.

O aumento depende, no entanto, em grande medida do que acontece do outro lado do Atlântico, Mediterrâneo adentro: a Europa negocia um terceiro resgate da dívida da Grécia.

Enquanto isso, o governo avança na negociação da reforma do ICMS, que poderia desonerar o setor produtivo, e avalia diminuir a sua meta de economia —o que pode diminuir a nota de investimento brasileira.

Veja abaixo seis pontos decisivos para a economia brasileira neste mês:

1) China

Um dos principais parceiros comerciais do Brasil e principal destino dos produtos do país, a China tem gerado preocupação conforme sua economia desacelera.

Políticas de estímulo do governo e quatro cortes consecutivos na taxa de juros desde novembro conseguiram garantir um crescimento de 7% do PIB no segundo trimestre, maior do que a expectativa de 6,8%.

Mesmo assim, a meta do governo do país de crescer 7% neste ano representa uma desaceleração —o crescimento de 7,4% em 2014 foi o menor desde 1989.

Questiona-se também se esse avanço é sustentável. A Bolsa de Xangai subiu 63% de dezembro até 12 de junho, pouco antes de causar pânico e despencar violentamente.

Até essa quarta-feira (15), as perdas foram de 26%. No auge, chegaram a somar US$ 3 trilhões, antes de o governo reagir comprando ações e suspendendo negociações.

Investidores observam atentamente se a recuperação se sustenta, ou se o mercado acionário chinês é mesmo uma bolha prestes a estourar, como defendeu o economista Stephen Roach, da Universidade de Yale à Folha.

PIB da China

2) Juros dos Estados Unidos

A situação incerta da China é um dos empecilhos à alta dos juros dos Estados Unidos, segundo a presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Janet Yellen.

"A China continua a enfrentar desafios impostos pela dívida elevada, mercados imobiliários fracos e condições financeiras voláteis", afirmou nesta quarta-feira (15).

A taxa de juros do país tem sido mantida baixa desde o estouro da crise americana, e está atualmente entre 0% e 0,25% —os juros brasileiros estão em 13,75%.

Com juros baixos, fica mais barato emprestar dinheiro no país, o que ativa a economia ao facilitar tanto investimento quanto consumo.

Com a melhora do mercado de trabalho e indícios cada vez mais contundentes de que a economia americana está de volta aos trilhos, o Fed tem emitido sinais de que pode aumentar sua taxa de juros.

Como os títulos da dívida pública americana são considerados extremamente seguros, uma alta dos juros os tornaria mais interessantes para os investidores. O fluxo de dinheiro para os Estados Unidos desvalorizaria o real frente ao dólar.

Outro ponto que tem justificado um atraso de uma alta —algo que não ocorre há nove anos— no entanto, é a situação grega que, segundo Yellen "permanece difícil".

Bao Dandan/Xinhua
Janet Yellen diz esperar alta dos juros nos EUA ainda neste ano
Janet Yellen diz esperar alta dos juros nos EUA ainda neste ano

3) Grécia

Após a Grécia não pagar a dívida de ¬ 1,6 bilhão com o Fundo Monetário Internacional (FMI) vencida no dia 30 de julho, a população do país votou no plebiscito do dia 5 de julho pelo "não" às condições dos credores para a liberação de verbas.

O governo teve que ceder para negociar um terceiro pacote de ajuda, de mais ¬ 86 bilhões e com condições ainda mais rígidas do que as anteriores.

Já nesta quarta, o Parlamento do país realiza uma votação crucial sobre parte das mudanças acordadas na segunda-feira junto a líderes da União Europeia.

A aprovação dos dolorosos ajustes, combatidos por membros do próprio governo, é pré-condição para que os Parlamentos de Finlândia, Alemanha, Áustria, Holanda, Eslováquia e Estônia votem sobre o acordo e permitam o prosseguimento às negociações.

Caso não ocorra, é possível que todo o processo de negociação seja abortado.

Segundo análise da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), "na ausência de ajuda por parte do MEE [Mecanismo Europeu de Resgate], o sistema bancário entrará inevitavelmente em colapso e levará a uma contração muito maior da economia grega".

Uma saída da Grécia da zona do euro aumentaria a desconfiança do mercado sobre países emergentes como o Brasil, o que poderia gerar a desvalorização do real, e tornaria ainda mais difícil para o país atrair recursos —um dos motivos pelos quais a taxa básica de juros Selic é tão alta.

4) Meta fiscal

Com queda na arrecadação, o governo estuda diminuir o superavit primário deste ano, que hoje é de 1,1% do PIB. Até o dia 22 de julho, o Palácio do Planalto precisará definir se reduzirá ou manterá a meta.

A ala política do governo Dilma defende reduzir a meta de superavit deste ano de para 0,6% do PIB. A de 2016, de 2% para 1%. E a de 2017, de 2% para 1,5%.

Números que não agradam ao ministro Joaquim Levy (Fazenda), que quer o menor ajuste possível e poderia aceitar um corte para cerca de 0,8% neste ano, 1,5% para o ano que vem e 2% em 2017.

O maior temor da equipe econômica é passar sinal de descontrole fiscal que leve à perda do grau de investimento do país dado pelas agências de classificação de risco, o que afastaria do Brasil dinheiro de fundos que buscam aplicações seguras.

Classificação de risco

5) Reforma do ICMS

Projeto de lei que está em discussão no Senado nesta semana, a reforma da unificação das alíquotas interestaduais do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em 4% tem o objetivo de melhorar o ambiente de negócios para as empresas e acabar com a guerra fiscal.

Esse é o termo usado para tratar da disputa estilo "quem dá mais" entre um Estado e outro, rebaixando a cobrança de impostos em portos e aeroportos para atrair empresas.

Mas, para destravar o projeto, o governo Dilma precisou negociar com os Estados, que temiam perdas de arrecadação.

Para compensar as perdas, a presidente assinou na segunda-feira (13) uma medida provisória que disponibilizaria a partir de 2016 dois fundos para os Estados.

Renato Costa/Frame/Folhapress
O ministro da Fazenda, Joaquim Levi se reúne com o presidente do Senado, Renan Calheiros
O ministro da Fazenda, Joaquim Levi e o presidente do Senado, Renan Calheiros

6) Repatriação de recursos e desoneração

Esses fundos que viabilizariam a reforma do ICMS seriam alimentados pela regularização de dinheiro brasileiro no exterior que não tenha passado pela Receita Federal, valor estimado pelo governo em R$ 200 bilhões.

O problema é que o projeto de lei que viabilizaria essa regularizaçãoestá travado no Congresso, com a piora do clima político e o avanço da Operação Lava Jato.

Sem a verba extra, não está claro de onde o governo tiraria os valores que contrabalançariam as alterações no ICMS.

O país também fica mais longe de atingir a meta fiscal para esse ano. Outro projeto que está travado é o que diminui a desoneração da folha de pagamentos —medida que teria impacto positivo na arrecadação do governo.

A expectativa da equipe de Levy era concluir a votação do projeto que reduz a desoneração e votar o da regularização de dinheiro no exterior nesta semana por causa do recesso do Legislativo.

No caso da desoneração, no governo já se fala na possibilidade de entrar em vigor só em 2016, não gerando receitas neste ano ao Tesouro.


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