Folha de S. Paulo


Entenda a queda das ações na China e como isso afeta o Brasil e o mundo

AFP
Chinês observa painel com dados sobre ações na Bolsa de Xangai, em Huaibei (China)
Chinês observa painel com dados sobre ações na Bolsa de Xangai, em Huaibei (China)

Depois de atingir níveis recordes em meados de junho, as Bolsas de Valores da China despencaram em julho e chegaram a perder um terço de seu valor (cerca de US$ 3,5 trilhões) em menos de quatro semanas.

Entenda o que está por trás da queda e por que o mundo inteiro se preocupa com isso.

1. O que aconteceu com o preço das ações chinesas?

Os dois principais índices das Bolsas chinesas, o de Xangai e o de Shenzhen, caíram 32% e 40%, respectivamente, desde o pico em meados de junho.

2. Mas as Bolsas não vinham subindo?

Reprodução
Na China, um vendedor ambulante de bananas usa uma folga no expediente para comprar e vender ações.
Na China, um vendedor ambulante de bananas usa uma folga no expediente para comprar e vender ações.

Os índices de ações chineses começaram a subir em julho de 2014 e a alta se acelerou a partir de março deste ano. No intervalo de um ano, a Bolsa de Xangai teve ganhos de 155% e a de Shenzhen, de 192%.

3. Então as ações ainda estão valorizadas?

Apesar das quedas no início de julho, os índices ainda têm valorização de cerca de 70% no período de 12 meses.

Pan Yulong/Xinhua
Investidore confere cotações em painel em Shenyang, na China
Investidor confere cotações em painel em Shenyang, na China

4. Como as ações subiram tanto?

Reuters
Operário trabalha na Torre de Xangai, um dos prédios mais altos do mundo
Operário trabalha na Torre de Xangai, um dos prédios mais altos do mundo

Uma das explicações é que, como reação à crise global de 2008, o governo chinês multiplicou seus investimentos para segurar a atividade econômica, provocando uma elevação excessiva dos preços de imóveis -a chamada "bolha". No começo de 2014, no entanto, os preços de imóveis começaram a cair e os investidores transferiram seus recursos para o mercado de ações, elevando os preços dos papéis.

Essa alta atraiu ainda mais investidores, muitos deles recorrendo a empréstimos para comprar ações, aumentando o volume de negócios e impulsionando ainda mais os preços.

Quando o governo tentou limitar o valor dos empréstimos a no máximo quatro vezes o capital do investidor, os índices já haviam chegado ao pico.

5. Por que os preços despencaram agora?

Por um lado, as ações estavam sobrevalorizadas, segundo analistas. No pico, empresas de tecnologia chinesas tinham suas ações negociadas com um "ágio" ainda maior que o da Nasdaq no estouro da bolha do ano 2000.

Na semana passada, alguns bancos limitaram o crédito para que investidores já endividados cumprissem as exigências de garantia feitas pela Bolsa, o que pode ter detonado um episódio de pânico: acionistas correram para vender seus papéis, derrubando ainda mais os preços.

6. O governo da China tem como controlar a queda?

Jason Lee/Reuters
O presidente chinês Xi Jinping (3º da esq. para a dir.) e dirigentes do Partido Comunista acompanham cerimônia na praça da Paz Celestial, em Pequim
O presidente chinês Xi Jinping (3º da esq. para a dir.) e dirigentes do Partido Comunista acompanham cerimônia na praça da Paz Celestial, em Pequim

A China acelerou o programa de compra de ações, ampliando US$ 19 bilhões para US$ 42 bilhões o capital de um fundo de emergência.

Também suspendeu as ofertas iniciais de ações e limitou operações especulativas que apostam na queda dos preços dos ativos.

O banco central criou linhas adicionais para que os investidores cumpram as exigências de garantia pedidas pela Bolsa.

Metade das ações tiveram sua negociação suspensa.

7. A queda nas Bolsas afeta a economia chinesa?

Reuters
Consumidores na fila do caixa de supermercado em Hefei (China)
Consumidores na fila do caixa de supermercado em Hefei (China)

O impacto nos consumidores deve ser pequeno, porque só uma pequena parcela da poupança chinesa está no mercado de ações.

Mas há temores de um risco mais amplo para o sistema financeiro e de instabilidade social, o que deve ampliar os esforços estatais para equilibrar as Bolsas.

8. E o resto do mundo?

Sheng Li/Reuters
Operário retira minério de ferro em porto chinês
Operário retira minério de ferro em porto chinês

A queda nos preços das ações também provocou uma baixa nos preços de commodities, principalmente minérios e metais -a China é o maior mercado global para esses produtos.

Existe o risco de que esses preços caiam ainda mais se as perdas no mercado de capitais forçarem especuladores a vender suas posições em commodities.

A queda no preço dos minérios afeta países como Canadá, Austrália e Brasil.

A redução da atividade chinesa também reduz o comércio internacional como um todo.

9. O que acontece com o Brasil?

China Foto Press/Getty Images
Farelo de soja é descarregado de um navio no porto Fangchenggang, na China
Farelo de soja é descarregado de um navio no porto Fangchenggang, na China

Os chineses são grandes compradores de petróleo, soja, minério de ferro e outras commodities brasileiras e o Brasil pode ser afetado tanto por redução nas exportações quanto pela queda ainda mais acentuada no preço das commodities.

A possibilidade de impacto em países emergentes também faz com que as moedas desses países se desvalorizem em relação ao dólar.

Uma terceira forma de contágio seria a retração nos investimentos diretos chineses, com os quais o Brasil conta para ampliar sua infraestrutura.


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