Folha de S. Paulo


Tire 13 dúvidas sobre causas e efeitos da alta do dólar

No ano, até agora, o dólar à vista, usado como referência no mercado financeiro, já subiu 23,3% no Brasil, para R$ 3,260 nesta quarta-feira (18), por volta de 14h30. E o dólar comercial, usado no comércio exterior, teve valorização de 21,4% no período, para R$ 3,262 nesta quarta, no mesmo horário.

A seguir, veja respostas a 13 dúvidas sobre causas e efeitos da alta do dólar no país, elaboradas a partir de entrevista com Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

1 - O que faz o dólar subir?

Há razões internas e externas. As crises política e econômica brasileiras afastam investidores do país. A queda das exportações também reduz a entrada de dólares na economia. No exterior, a sinalização de que o banco central americano (o Fed, Federal Reserve) deverá elevar os juros faz também contribui para a alta do dólar no Brasil.

2 - Por que a alta dos juros nos EUA impulsiona o dólar no Brasil?

A alta de juros eleva a remuneração dos títulos da dívida americana. Com isso, investidores que migraram para ativos de emergentes (com remuneração maior, porém mais arriscados) na crise tendem a retornar aos EUA.

Brendan Smialowski - 25.fev.2015/AFP
Presidente do Federal Reserve (BC americano), Janet Yellen; reunião nesta quarta-feira (18) define os rumos da política monetária americana
Presidente do Federal Reserve (BC americano), Janet Yellen; reunião nesta quarta-feira (18) define os rumos da política monetária americana

3 - Qual a expectativa sobre o resultado da reunião do BC americano?

A reunião do Fed (BC americano), marcada para a tarde desta quarta-feira (18), irá definir os rumos da política monetária americana, incluindo o aumento ou não do juros. A expectativa é que a atual política monetária americana se mantenha sem alteração da taxa básica de juros –que está hoje praticamente zerada– até o início do segundo semestre, pelo menos. Também há no mercado, porém, a avaliação de que, com sinais de recuperação da economia dos EUA, a autoridade monetária possa subir a taxa básica ainda no primeiro semestre.

4 - Qual o melhor cenário da decisão do BC dos EUA para o Brasil?

Como o real já está desvalorizado em relação ao dólar, o melhor cenário para o Brasil seria aumento do juros americanos apenas no segundo semestre. Assim, o governo Dilma poderia ter um tempo maior para aprovar os ajustes necessários no Congresso e reorganizar a economia do país. Consequentemente também contribuindo para uma menor instabilidade política.

Beto Barata - 17.mar.2015/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff, ao lado dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça); governo tenta reorganizar a economia do país com propostas de ajustes fiscais
A presidente Dilma Rousseff, ao lado dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça); governo tenta reorganizar a economia do país com propostas de ajustes fiscais

5 - Qual o reflexo dessa decisão sobre o preço do dólar no Brasil?

O Brasil pode sofrer ainda mais com o impacto no preço do dólar com qualquer decisão do Fed nesta quarta-feira (18). Se houver mudança –ou seja, se houver aumento dos juros nos EUA–, é provável que a moeda chegue a um patamar de R$ 3,50 a R$ 3,75, como o mercado já prevê.

Se o governo brasileiro conseguir a aprovação no Congresso de todos os ajustes econômicos propostos pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda), o impacto do aumento da taxa básica de juros nos EUA será menor na nossa economia., uma vez que contribuiria para aumentar a confiança do investidor estrangeiro no país.

Caso a instabilidade econômica e política continue, com os nervos à flor da pele no mercado, as consequências serão maiores.

Sergio Lima - 10.mar.2015/Folhapress
O Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, recebe o ministro da Fazenda, Joaquim Levy; governa tenta aprovar ajustes no Congresso para diminuir instabilidade econômica
O Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, recebe o ministro da Fazenda, Joaquim Levy; governa tenta aprovar ajustes no Congresso para diminuir instabilidade econômica

6 - Por que o dólar tem subido em relação a moedas emergentes?

As causas são, principalmente, a queda nos preços das commodities e a expectativa da mudança da política monetária dos EUA. Como a economia americana está se recuperando de uma forma constante, o valor do dólar tem subido em relação ao das moedas dos países emergentes, como os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

No caso do Brasil, houve um exagero em gastos do governo, com um ano de menor arrecadação, que resultaram nos rombos das contas públicas e na instabilidade econômica. Por isso, a necessidade do governo em aprovar os ajustes econômicos o quanto antes.

Já a China desacelerou o crescimento e também precisa lidar com a alta da inflação, assim como a Índia. A moeda russa também está desvalorizada em relação ao dólar como consequência da crise na Ucrânia e o embargo imposto pela Europa e Estados Unidos.

Danilo Verpa - 15.mar.2014/Folhapress
Manifestação na avenida Paulista contra o governo Dilma (PT) reuniu cerca de 210 mil pessoas, segundo o Datafolha; país passa por período de instabilidade econômica e política
Manifestação na avenida Paulista contra o governo Dilma (PT) reuniu cerca de 210 mil pessoas, segundo o Datafolha; país passa por período de instabilidade econômica e política

7 - O que o Brasil pode fazer para proteger sua moeda?

Na terça-feira (17), a presidente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, já havia mencionado a necessidade das economias emergentes se protegerem para não sofrer tanto com as mudanças na política econômica americana.

Para interferir no valor do dólar no Brasil, o Banco Central usa o mecanismo de leilões de contratos de swap cambial (que equivalem a uma venda futura de dólares). Porém, desde o início de março, há a expectativa de que o BC passe a oferecer menos desses contratos.

O Banco Central começou a utilizar esses swaps em 2013 prometendo terminar o programa de intervenções em dezembro de 2014, porém a decisão foi prolongar o movimento por mais 3 meses, até 31 de março deste ano. No início deste mês, o BC já diminuiu as rolagens de contratos, o que pode significar o término da interferência do dólar.

O governo pode ter percebido a ineficiência do mecanismo para tentar barrar a alta do dólar e chegou à conclusão de que o dinheiro está sendo gasto para o lucro de poucos investidores no mercado.

8 - Há um limite para a valorização da moeda no Brasil?

É difícil prever. Há projeções de que o dólar possa chegar perto de R$ 4; outras indicam que a moeda retorne para perto de R$ 3. Analistas consultados no boletim Focus, resultado de pesquisa semanal do Banco Central, projetam que o câmbio feche o ano a R$ 3,06.

9 - Quem perde com a alta do dólar no Brasil?

O importador é um exemplo de quem perde com a alta do dólar: tudo de que ele precisa tem aumento no preço.

A situação é ainda pior se, por exemplo, ele resolveu aumentar o pátio industrial e, para isso, comprou maquinário no exterior, acumulando uma dívida em dólar. Além do aumento do endividamento, ele não consegue repassar isso para o preço de venda do produto para não perder clientes.

O turista também é prejudicado porque a viagem pode sair mais cara –e talvez com menos "luxos". O ideal é fracionar a compra dos dólares necessários para viajar. Assim, ao final da aquisição, o valor pago em média pelo dólar neutraliza uma eventual valorização forte em algum período.

Daniel Marenco - 28.out.2014/Folhapress
Vista aérea de um dos principais destinos do mundo: Nova York; com a desvalorização do real, turistas diminuem gastos em viagens
Vista aérea de um dos principais destinos do mundo: Nova York; com a desvalorização do real, turistas diminuem gastos em viagens

10 - Quem ganha com a alta do dólar no Brasil?

Os especuladores: investidores que apostam no caos da moeda para lucrar com a alta de dólar e juros. Uma das maneiras mais comuns é a compra de contratos futuros de dólar na Bolsa.

O especulador precisa somente depositar uma garantia de acordo com a quantidade de contratos no mercado de câmbio futuro que adquiriu. Assim, ele pode comprar o contrato com o dólar cotado a um valor menor do que aquele que será registrado no momento da venda, embolsando a diferença.

Para o especulador estrangeiro, que tem dólares, por exemplo, está mais barato comprar ações de empresas brasileiras na Bolsa –que, além de tudo, tiveram forte desvalorização recente. Assim, esse investidor compra agora e espera as ações se valorizarem novamente.

11 - Por que o preço do dólar está oscilando tanto no Brasil?

A forte volatilidade do dólar acontece por causa de uma instabilidade política e econômica no país e fatores externos, como a própria expectativa para mudanças na política econômica americana. Nesta terça-feira (17) o mercado brasileiro estava seguindo as consequências da política e economia brasileiras. Nesta quarta, já espera a decisão do BC americano.

12 - Quem perde com a forte instabilidade do dólar no país?

O importador é o que mais perde com essa oscilação no preço do dólar. Além do investidor com dívida acumulada em dólar, que pode ver o montante que deve disparar.

O exportador também é prejudicado, pois ele acaba não tendo como planejar os negócios, tenta apostar que o dólar vai subir e atrasa contratos para fazer uma taxa melhor, mas perde, obviamente, aquilo que já vendeu sem a alta. O Brasil é um grande exportador de commodity, mas tem restrição na exportação de manufaturados pela falta de competitividade. Por isso a queda nos preços gerou tanto impacto na economia.

Danilo Verpa - 25.fev.2014/Folhapress
Movimentação de caminhões no Porto de Santos; o exportador também é prejudicado com a instabilidade do dólar para planejar os negócios
Movimentação de caminhões no porto de Santos; o exportador também é prejudicado com a instabilidade do dólar para planejar os negócios

13 - Quem ganha com a forte instabilidade do dólar no Brasil?

Além do especulador, os bancos também são os que mais ganham porque essa instabilidade abre a possibilidade de cobranças maiores por empréstimos com o aumento da taxa básica de juros. E como a crise no país resulta no cerceamento de crédito no exterior e capitação estrangeira, o investidor mira os bancos no Brasil.


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