Folha de S. Paulo


Sete desafios para a economia brasileira em 2015

CRISE DA ÁGUA

Apesar de chuvas recentes terem aumentado o nível do Sistema Cantareira, que abastece a Grande São Paulo, para 6,7% de sua capacidade, a situação ainda é preocupante e um rodízio não foi descartado pelo governo estadual.

Parte da indústria da região tem fontes independentes de água, como poços artesianos, mas um racionamento poderia afetar o cotidiano de 5 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Também o Rio de Janeiro sofre com perigo de escassez.

A Gradual Investimentos estima que o aumento de custos e a possível paralisação de atividades em São Paulo na área tirariam um ponto do PIB de 2015.

Luis Moura/Folhapress
Sistema Cantareira com nível de 6,4% da capacidade total, na represa do Atibainha, em Nazaré Paulista (interior de SP)
Cantareira com nível de 6,4% da capacidade, na represa do Atibainha, em Nazaré Paulista (interior de SP)

CRISE ENERGÉTICA

A crise da água também é uma crise energética. Em janeiro deste ano, o volume de água que desceu os rios e atingiu reservatórios das hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste, considerado a "caixa d'água" do sistema elétrico nacional, foi o menor em 84 anos.

Em fevereiro, o nível dos reservatórios da região subiu de 16,84% para 17,24%, mas é incerto se isso é uma tendência duradoura.

No começo do mesmo mês, o governo anunciou que o risco de desabastecimento de energia no país ultrapassou o limite prudencial de 5% estabelecido pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética).

Caso haja um racionamento de 10% na energia por um ano, isso impactaria em uma queda de um ponto percentual no PIB, segundo cálculos do banco Credit Suisse.

Editoria de Arte/Folhapress

CHINA

O crescimento econômico da China desacelerou para 7,4% em 2014, nível mais fraco em 24 anos, ante 7,7% em 2013. As dificuldades são causadas pela desaceleração no mercado imobiliário ao mesmo tempo em que companhias enfrentam problemas para pagar dívidas.

Apesar de o crescimento estar longe de ser pequeno, a desaceleração do ritmo é um desafio para países emergentes como o Brasil, fornecedor de matérias primas para a China.

O país asiático informou que seu desempenho comercial caiu em janeiro, com exportações 3,3% inferiores às registradas no mesmo período do ano anterior. Enquanto isso, as importações, principalmente de commodities, recuaram 19,9%, resultado muito pior do que esperavam os analistas.

A demanda menor dessa, que é a segunda maior economia do mundo, contribuiu para que o minério de ferro, um produto que o Brasil exporta, fosse negociado em dezembro a US$ 68,8, uma queda de 50% em relação a um ano antes.

O governo chinês tem, no entanto, adotado medidas de estímulo. No começo de fevereiro, diminuiu de 20% para 19,5% a proporção de dinheiro que os bancos não podem emprestar. Resta saber se isso vai ser o suficiente para manter a voracidade chinesa pelos produtos brasileiros

PETRÓLEO

De um patamar ao redor de US$ 100 o barril em setembro do ano passado, o petróleo despencou para a faixa de US$ 50. Isso serviu de alívio para o caixa da Petrobras, que não tem mais que importá-lo por um preço mais alto do que vendia no país –forma encontrada pelo governo de segurar o aumento da inflação. Agora, a empresa o compra por um preço mais barato do que vende no mercado e pode recuperar parte das reservas perdidas.

A longo prazo, no entanto, os valores baixos podem fazer com que a extração do petróleo do pré-sal, grande aposta da empresa, não se pague. Segundo a companhia, para que a exploração seja viável, o preço do barril deve ficar entre US$ 45 e US$ 52.

Caso isso se confirme, será uma péssima notícia para a Petrobras e também para o país. Em junho de 2014, a presidente Dilma anunciou que a destinação de 50% dos royalties do petróleo e 75% do fundo social do pré-sal serviriam para financiar, por exemplo, o Plano Nacional de Educação.

Petrobras/Bloomberg
Plataforma da Petrobras, no campo Jubarte, no Espírito Santo; queda do preço do petróleo pode inviabilizar produção
Plataforma da Petrobras, no campo Jubarte (ES); queda do petróleo pode inviabilizar produção

DÓLAR

Com insegurança em relação à permanência da Grécia na zona do euro, perspectiva maior de que o banco central americano eleve as taxas de juros, o dólar tem ficado cada vez mais perto da casa dos R$ 2,90, o maior patamar em mais de dez anos. Isso é positivo para exportadores brasileiros, que vão ter preços mais atrativos para o mercado estrangeiro com moeda forte.

Mas aumenta o custo do financiamento das dívidas brasileiras. A Petrobras, por exemplo, tem 70% de suas dívidas em dólar. Entre outros efeitos isso deve dificultar investimentos e a obtenção de novos financiamentos para as empresas. Com o real valendo menos, também fica mais difícil importar, suprir o mercado e manter a inflação baixa.

INFLAÇÃO

Quando contabilizados 12 meses até janeiro deste ano, a inflação no Brasil passa de 7,14%, acima do teto da meta legal, de 6,5%. Cada vez mais pessimista, a expectativa do mercado é de que a inflação para o ano de 2015 também bata a meta e seja de 7,15%.

Os maiores ajustes foram puxados pelo aumento do custo da energia e dos transportes, que tinham sido segurados pelo governo no ano passado. Isso impacta diretamente no bolso da população e no seu poder de consumo, o que pode impactar no PIB.

Evolução da expectativa dos economistas, segundo pesquisa Focus

PIB

As expectativas mais pessimistas em relação à inflação são acompanhadas de previsões ruins também em relação ao crescimento do PIB de 2015. Dados de atividade econômica divulgados pelo Banco Central apontam "encolhimento" de 0,15% na economia em 2014, o pior resultado desde 2009.

Se a expectativa de economistas consultados pelo Banco Central no começo de novembro era de crescimento de 1% em 2015, agora ela é de variação nula. Ou seja, para grande parte do mercado, nesse ano o Brasil, no máximo, fica na mesma.


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