Folha de S. Paulo


Armadilhas colocam em risco jacarés da mata atlântica

Leonardo Merçon/Divulgação
Anzol de armadilha no tórax de jacaré-de-papo-amarelo
Anzol de armadilha no tórax de jacaré-de-papo-amarelo

Um grupo de pesquisadores descobre um jacaré preso em uma armadilha e corre para resgatá-lo. Após cerca de 36 horas de cuidados veterinários, o fim da história é a morte do animal.

"Essa é a realidade, é o que acontece com a maioria dos jacarés resgatados", afirma Yhuri Nóbrega, coordenador do Projeto Caiman, de Vitória, no Espírito Santo, iniciativa que busca a conservação na mata atlântica do Caiman latirostris, o jacaré-de-papo-amarelo.

O grupo de resgate foi chamado por moradores do município de Serra (ES), que avistaram o animal preso com um engasgo, armadilha composta de fio e anzol.

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Para se alimentar, os jacarés fazem o "giro da morte" –no qual o bicho morde a presa e gira para arrancar pedaços e engoli-los. Por conta desse comportamento, o anzol pode provocar sérios danos internos no animal. "Pulmão, coração e esôfago estavam completamente lesionados", diz Nóbrega.

A tentativa de resgate do jovem C. latirostris, que tinha entre 4 e 5 anos, começou com uma endoscopia para a retirada do anzol. Segundo Nóbrega, por ser pouco invasiva, trata-se da melhor alternativa para a resolução do problema.

Contudo, pelo fato de o anzol ter se fixado de forma muito intensa no tórax do jacaré, uma cirurgia foi necessária.

Segundo Nóbrega, a intervenção cirúrgica para a retirada do anzol é necessária em 90% dos casos de jacarés resgatados. O resultado, porém, costuma ser a morte.

O jacaré-de-papo-amarelo costuma ser vítima da caça pelo valor comercial de seu couro e de sua carne, e também pela diminuição do seu habitat, a mata atlântica –o que faz com que ele se aproxime de áreas mais urbanizadas.

Nóbrega alerta que comer a carne do animal pode ser perigoso, considerando a possibilidade de contaminação dela, o que poderia provocar problemas de saúde.

"Os jacarés, além do valor cultural, desempenham um papel de regulação ecológica", diz Nóbrega.

O C. latirostris não consta na lista oficial de animais ameaçados de extinção, mas uma avaliação de risco de 2013 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade afirma que a elevada pressão de caça em algumas regiões pode afetar o fluxo gênico entre populações da espécie, o que merece atenção.


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