Folha de S. Paulo


Estudo cataloga 958 águas-vivas da América do Sul; conheça algumas

Um novo estudo de cientistas brasileiros em parceria com outros sul-americanos fez o maior censo de águas-vivas (e alguns outros organismos muito próximos delas) do continente e talvez do mundo. Foram 958 espécies catalogadas.

O grande estudo –de 256 páginas– envolveu dados que pesquisadores brasileiros já haviam coletado e outros de estudiosos da Argentina, Colômbia, do Peru, Uruguai e Chile.

Entre os principais resultados do projeto, avalia Antonio Carlos Marques, diretor do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da USP e coordenador do estudo, está o estabelecimento de um marco científico na área, uma "pesquisa básica e estruturante", como ele descreve.

A meta foi organizar quase 150 anos de estudos e descrições. O trabalho levou quase uma década da concepção à publicação. O quase milhar de espécies catalogadas –com descrição, localização– foi uma das boas surpresas do estudo. "Outra boa novidade foi saber que existe um alto nível de conhecimento do assunto em vários grupos de pesquisa".

Os cientistas também descobriram que existem grandes áreas –Patagônia, norte do Chile, costa Venezuelana e Norte brasileiro, por exemplo– muito pouco exploradas. Além disso, o mar profundo, onde quase não entra luz, é pouco explorado tanto no oceano Atlântico quanto no Pacífico.

A pesquisa, publicada no periódico especializado "Zootaxa" faz parte do projeto "Dimensões da vida marinha: padrões e processos de diversificação em cnidários planctônicos e bentônicos", coordenado por Marques no Programa de Pesquisa em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (Biota-Fapesp).

Entre os desdobramentos possíveis está o possível estabelecimento de novas áreas a serem conservadas.

"Se não soubermos o que tem em um local, não dá para convencer alguém de que ele deve ser conservado. Vão me perguntar: 'Você quer conservar o quê?' Se for só por uma questão estética, não convence", diz Marques.

Um argumento favorável à criação de áreas de conservação, por exemplo, é a existência de espécies únicas em uma determinada região ou a de um papel ecológico único de um organismo, ou ainda a de caminhos inusitados que a evolução tomou naquele lugar em especial.

Ao conhecer os bichos, argumenta Marques, é possível também determinar se é possível fazer uma exploração sustentável. Algumas espécies têm valor ornamental e o coquetel venenoso produzido pelas águas-vivas também pode ser interessante para a elaboração de novos medicamentos ou para uso na indústria biotecnológica.

Outra possibilidade também importante é usar os dados biogeográficos –onde as espécies estão– para elaborar programas de prevenção de acidentes com as águas-vivas (envenenamentos).


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