Folha de S. Paulo


Brasil chega ao término de conferência do clima com papel de destaque

Zhao Dingzhe/Xinhua
COP22 chega ao fim nesta sexta (18)
COP22 chega ao fim nesta sexta (18)

A primeira Conferência da ONU sobre o Clima após a assinatura do Acordo de Paris tinha tudo para ser uma edição tranquila, sem sustos. Mas o final reservou surpresas.

A missão de Marrakech seria definir uma agenda para os próximos dois anos, com um calendário para a resolução de regras técnicas sobre o financiamento e a prestação de contas das ações prometidas em Paris. As negociações acumulavam alguns nós que, na última hora e com apoio importante do Brasil, foram se desfazendo.

Ao final do encontro que adentrou a madruga deste sábado (19), na cidade marroquina, o Brasil, em pareceria inédita com Argentina e Uruguai, realizaram um manifesto conjunto ressaltando a importância da adaptação às mudanças climáticas, da agricultura e segurança alimentar e das florestas. Temas comuns aos três países.

Antes disso, alguns problemas tiveram de ser resolvidos. Não se tratavam de soluções imediatas, mas do estabelecimento por parte dos países de uma agenda comum a todos para que a discussão pudesse continuar nos próximos dois anos, até 2018.

O primeiro dos problemas era a questão do Fundo para Adaptação às Mudanças Climáticas na agenda de regulamentação. Embora o Fundo Verde para o Clima, acordado em 2009, já inclua uma distribuição nos recursos, haveria mais interesse internacional nos investimentos em mitigação (redução de emissões), o que faz com que os países vulneráveis ao clima insistam na proposta.

Houve, por alguns instantes, um desacordo entre Brasil e China por causa dos ciclos de revisão das metas nacionalmente determinadas para redução de emissões. Em 2015, alguns se comprometeram a revisá-las a cada cinco anos, outros a cada dez.

Após a mediação do Brasil, ficou acordado que esse tópico será uma das prioridade nas próximas etapas das negociações sobre o clima.

O fórum adequado para a discussão é a CMA, dos signatários do Acordo de Paris, mas os países que ainda não aderiram, pode dar sugestões até o ano de 2018, quando a CMA assume essa função da COP.
Uma nota enviada pela delegação brasileira à imprensa destaca um ponto de avanço na agenda da COP22: um calendário de financiamento proposto pelos países desenvolvidos, fora das salas de negociação da COP.

Eles estavam sendo cobrados pelos países em desenvolvimento sobre o financiamento de longo prazo ao clima, para depois de 2020. Um "mapa do caminho" foi produzido pelo grupo dos mais ricos e saudado pelo documento da COP22, que não deve entrar no mérito do conteúdo.

PROGRESSO

Também nesse último dia, uma coalizão de 48 países em desenvolvimento e vulneráveis ao clima anunciaram uma meta conjunta de chegar a 100% de energias renováveis nas próximas décadas.

Embora não tenha definido um prazo estrito, o anúncio animou quem se preparava para deixar a COP, especialmente porque dessa vez foram os países em desenvolvimento que puxaram a ação.

Segundo análise de observadores, a entrada em vigor do Acordo de Paris no último 4 de novembro adicionou complexidade à implementação do documento.

A expectativa era de que ele virasse lei internacional somente por volta de 2020, quando começa o primeiro período de compromisso com as metas de redução de emissões nacionalmente determinadas.

Além de dificuldades técnicas intrínsecas ao processo, também houve mais um elemento de confusão, logo no terceiro dia de COP: a eleição de Donald Trump nos EUA.

Por negar as mudanças climáticas e ameaçar deixar o Acordo de Paris, Trump roubou a cena na COP e a chegada de ministros e Chefes de Estados na última segunda (14) foi pautada por questões sobre o futuro do acordo climático.

O secretário de Estado americano, John Kerry, também esteve na COP e deixou o recado para Trump: "As mudanças climáticas são reais". Na noite da última quinta-feira (17), os líderes se reuniram na plenária para celebrar a Declaração de Marrakech: um documento de apenas uma página, clamando por compromissos políticos com o clima. Mais um recado para o recém-eleito presidente dos EUA.

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O QUE TEVE NA COP22

MISSÃO
A Conferência da ONU Sobre o Clima, que aconteceu em Marrakech, no Marrocos, tinha como missão estabelecer uma agenda de implementação de medidas de fiscalização, transparência e de adaptação até o ano de 2018 sobre o que havia sido acordado no Acordo de Paris, que tem como meta limitar o aquecimento global

Fadel Senna/AFP
Membros das delegações brincam do lado de fora da COP22
Membros das delegações brincam do lado de fora da COP22

DE VENTO EM POPA
Por causa da implementação em tempo recorde do acordo de Paris –um ano–, o clima era de otimismo do íncio da COP, mas, no fim das contas, essa euforia não foi até o final

Hannah McKay/Reuters
Homem com máscara de Donald Trump protesta em frente à embaixada americana em Londres
Homem com máscara de Donald Trump protesta em frente à embaixada americana em Londres

EFEITO TRUMP
Três dias após o início da conferência, no dia 7, acontecia a eleição nos EUA. A vitória fora do script do republicano Donald Trump pegou as delegações e observadores de surpresa

CETICISMO
Trump defende uma posição cética em relação às mudanças climáticas, e é favorável ao uso de energia proveniente de combustíveis fósseis e do carvão

DESESPERO
A COP22 está terminando sem tantos resultados notórios. Existe uma cobrança de "comrpomisso político" dos países contra as mudanças climáticas, o que, teoricamente, ja teria sido acordo em Paris

DINHEIRO
Com EUA menos interessados na questão climática, será mais difícil atingir os R$ 100 bilhões de 2009 pra o Fundo Verde do Clima, o que preocupa os ambientalistas

ADAPTAÇÃO
O tema de adaptação às mudanças climáticas, como obras para conter os efeitos do aumento do nível do mar, perderem espaços e ficaram de fora das conversas

CARVÃO
A indústria do carvão fez movimentos para tentar emplacar uma modalidade menos agressiva ao ambiente da produção de combustível, com grande resistência por parte das ONGs

NEGÓCIOS
Com poucos assuntos que interessem à maioria das pessoas, empresas e executivos aproveitam para fechar negócios e trocar cartões de visitas

Juan Domingues
Blairo Maggi, ministro da Agricultura, recebe colar pelas pérolas que proferiu na COP22
Blairo Maggi, ministro da Agricultura, recebe colar pelas pérolas que proferiu na COP22

PRESSÃO
Por sua vez, ONGs e ambientalistas aproveitam para pressionar os representantes do governo, como aconteceu após as frases polêmicas de Blairo Maggi (ministro da Agricultura) sobre conflitos e mortes no campo


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