Folha de S. Paulo


Marinha administra o posto na ilha da Trindade desde 1957

A última equipe de pesquisadores a chegar na ilha da Trindade viajou em relativo conforto. Normalmente, a Marinha envia suprimentos, seu pessoal e pesquisadores a cada dois meses para lá. O meio mais empregado é o navio-patrulha oceânico, como os três da classe Amazonas, que sacodem muito pelo caminho, mesmo com um tranquilo "mar de almirante". Mas durante as Olimpíadas eles estavam sendo utilizados na proteção marítima do Rio de Janeiro.

Logo, a viagem para Trindade foi feita no mais lento, mas bem maior e mais confortável navio de desembarque de carros de combate Almirante Saboia. Na sua vida pregressa, esse navio de construção britânica foi o RFA ("Royal Fleet Auxiliary") Sir Bedivere, veterano da guerra das Falklands/Malvinas de 1982.

O navio da "real esquadra auxiliar" –tripulado por oficiais da Marinha Real, mas com marinheiros chineses civis de Hong Kong serviu para transporte de equipamento e de algumas unidades militares. Chegou a ser levemente danificado por uma bomba de um caça-bombardeiro argentino que atingiu a cabeça do principal guindaste, bateu no costado e caiu no mar.

O Sir Bedivere foi reformado, aumentando de tamanho, e depois vendido ao Brasil. Foi usado para levar e trazer material da força de paz brasileira no Haiti.

A partir de 2011, a Marinha do Brasil deu um novo impulso às pesquisas e conservação da Ilha da Trindade, inaugurando a Estação Científica, capaz de abrigar oito pesquisadores, e reconstruindo e ampliando a Estação Meteorológica. Atualmente há mais de 50 projetos de pesquisa em andamento na Ilha, em parte apoiados pelo CNPq, tratando de assuntos muito diversos.

Ruy José Válka Alves, pesquisador do Museu Nacional da UFRJ, computou a evolução do conhecimento científico publicado sobre Trindade e Martin Vaz ao longo de três séculos (1760-2009).

"Alguns picos de produção científica são notórios: anos 1820 –coincide com a Independência do Brasil (1822); anos 1910 –primeira expedição do Museu Nacional à ilha em 1916 (expedição de Bruno Lobo); anos 1950 – resultados das expedições João Alberto, Baependi e Vega. Dos anos 1960 em diante se nota um crescimento relativamente estável do número de estudos científicos da Ilha, que reflete um crescente interesse da Marinha do Brasil em fornecer o apoio logístico às pesquisas e parcerias", escreveu Válka Alves.

Em 1957, durante o Ano Geofísico Internacional, a Marinha ocupou Trindade de forma permanente e iniciou a construção do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (Poit), a princípio voltado para a meteorologia. Depois a Marinha convidou cientistas de vários campos para conduzirem pesquisas na ilha.

O geólogo da USP (Universidade de São Paulo) Umberto Cordani datou 37 amostras de rochas de Trindade pelo método Potássio-Argônio, e publicou os resultados em 1970: a ilha é relativamente nova, a datação mais antiga sendo de 3,6 milhões de anos atrás.

O jornalista viajou a convite da Marinha do Brasil, a bordo do NDCC Almirante Saboia


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