Folha de S. Paulo


Contando elefantes: pesquisadores fazem maior censo do mundo

Vulcan Inc.
Projeto de Paul Allen, da Microsoft, que fez censo de elefantes na AÂfrica Foto: Vulcan Inc. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Cientistas sobrevoaram 20 países da africanos para contar quantos elefantes eles tinham

Há dois anos, pesquisadores cruzam os céus africanos a bordo de aviões. Sua missão: contar elefantes. A contagem do maior bicho terrestre é o maior recenseamento animal de todos os tempos. Somando todos os voos, daria para chegar à Lua, ou dar mais de dez voltas em torno da Terra –mais de 450 mil km.

O censo foi financiado pelo bilionário da Microsoft, Paul G. Allen, e envolve cerca de 90 pesquisadores, liderados por Mike Chase, da ONG Elefantes Sem Fronteiras. O centro de análise dos dados fica em Seattle, EUA, sede de uma empresa de Allen, a Vulcan.

"Estamos vendo a maior taxa de mortalidade de elefantes da história. Até 20% dos elefantes de África podem ser mortos nos próximos dez anos se a caça ilegal continuar no ritmo atual. Agravando isso temos a rápida perda de habitat dos elefantes por conta da mineração, das madeireiras e de outras formas de expansão humana", declarou Allen.

Existem elefantes em 37 países africanos. O censo se limitou aos 20 países que deram permissão para os sobrevoos, mas nessa área estima-se que estão 90% destes animais, incluindo países nunca pesquisados até agora, como Angola. O trabalho de campo já está praticamente encerrado e os dados agora estão sendo analisados.

Antes do censo, dados da União Internacional para a Conservação da Natureza indicavam que o número dos paquidermes do continente teria caído de 550 mil para 470 mil entre 2006 e 2013. Estima-se que, no começo do século 20, a África tinha algo em torno de 10 milhões de elefantes.

Censo de elefantes

A pior notícia até agora foi a alarmante queda de 53% dos elefantes na Tanzânia, país com vários parques nacionais e que, diferentemente de outras nações, não sofreu guerras e, portanto, não viu o números diminuir em função do conflito.

De estimados 109 mil elefantes em 2009, foram contados agora apenas 51 mil em 2015. O país se tornou a maior fonte de marfim ilegal no leste africano. Depois da divulgação dos números, a Tanzânia contratou mais guardas florestais e deu mais recursos para os parques.

Do lado positivo estão os dados de Botsuana, com exatos 129.939 elefantes observados em 2014. O número tem se mantido bastante estável nos últimos anos.

Embora o número seja pequeno, os cerca de 5.000 elefantes de Uganda são uma boa notícia, pois na década de 1970 a população tinha caído para menos de mil.

Os dados divulgados mais recentemente foram os da Zâmbia, baseados em 250 horas de voos realizados em 2015. O número de elefantes permanece estável, embora demonstre grande variação regional.

"A pesquisa fornece os dados de que precisamos para direcionar recursos onde eles podem ter o maior impacto, tanto para conservação como para melhorar a vida das pessoas", disse Matt Brown, diretor de Conservação para África da ONG The Nature Conservancy, parceira do censo.

"Os números em geral parecem mais positivos do que o esperado, sugerindo que a proteção está fazendo diferença. Mas não significa que nós podemos descansar. A caça ilegal é como a água –ela se move para o caminho de menor resistência", diz Brown. Áreas melhor patrulhadas têm mais animais vivos, e menos carcaças.

O censo teve seu primeiro voo em 26 de fevereiro de 2014, sobre o Parque Nacional Tsavao, no Quênia. O número de elefantes no parque caiu nos últimos anos de 12.500 para 11.000.


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