Folha de S. Paulo


Meta de plantio de árvores da Olimpíada do Rio não será atingida

Felipe Hanower/Folhapress
Construção de pavilhão que sediará competições de boxe na Olimpíada; plantio de árvores não deve zerar impacto do evento
Construção de pavilhão que sediará competições de boxe na Olimpíada; plantio de árvores não deve zerar impacto do evento

Para compensar o impacto ambiental da Olimpíada, o governo do Rio de Janeiro planejava plantar 36 milhões de árvores da mata atlântica, mas até agora menos de um quinto da meta foi cumprido.

A meta havia sido anunciada em 2012 por Carlos Minc (PT), à época secretário do Ambiente. O número, inclusive, excedia os 24 milhões de árvores prometidas na época da candidatura do Rio para os jogos –chegando aos 13 mil hectares de floresta.

"Nem eu nem minha equipe participamos da definição [da meta] de 24 milhões, que surgiram sem estudo", afirmou o Minc à Folha. "Uma consultoria internacional concluiu que precisávamos de 18 milhões para abater as emissões, então tomamos medidas que poderiam chegar ao plantio de 36 milhões, para garantir", disse.

A ideia é compensar a emissão de gases-estufa gerados por causa do evento. A estimativa de um estudo da UFRJ publicado pelo comitê olímpico é que o equivalente a 3,6 milhões de toneladas de CO2 de sejam emitidas.

Após a saída de Minc, a SEA-RJ diz não reconhecer a meta de 36 milhões. Em nota, foi dito que ela é responsável por compensar 1,6 milhão de toneladas de gases, sendo que metade já estariam compensados pelos 2,5 mil hectares plantados.

O órgão também não esclarece quais árvores foram plantadas especificamente para compensar as emissões da Olimpíada. Na conta atual, entram florestamentos financiados por empresas privadas para "compensar" obras que não as do evento olímpico.

Ambientalistas criticam a falta de transparência na definição de quem está pagando o quê. "Quando existe uma meta e não se define de onde vão vir os financiamentos, fica difícil mensurar se o projeto foi realmente adicional ao que teria acontecido normalmente", afirma Lucas Pereira, da ONG Iniciativa Verde.

O plantio de árvores é um dos métodos mais eficientes para mitigar o efeito estufa. As árvores plantadas até agora no Rio, por exemplo, têm o potencial de absorver 50 mil toneladas de CO2 por ano enquanto estiverem crescendo.

Em 2013, o site da SEA-RJ incluía o compromisso da Petrobras de compensar as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro com o plantio de 7 milhões de árvores. Após questionamento da Folha, a página foi tirada do ar.

O governo do Rio também tem sido alvo de críticas por não ter despoluído 80% do esgoto despejado na baía de Guanabara, onde acontecerão as provas de vela, remo e maratona aquática, e por ter autorizado a construção de um campo de golfe em área de reserva ambiental.

EM LONDRES

Nos jogos de Londres-2012, os planos de compensação de carbono também foram abandonados prematuramente. Em 2011, os organizadores recuaram de plano apresentado em 2009 que prometia investimentos em energia limpa em países em desenvolvimento.

A única compensação foi patrocinada pela British Petroleum, parceira do evento, que comprou créditos de carbono equivalentes a 100 das 913 mil toneladas de emissões geradas pelo transporte dos espectadores —boa parte das 3,3 milhões de toneladas do evento.

Outra iniciativa de destaque de Londres foi a reciclagem de 70% dos resíduos gerados pelo público e a compostagem dos resíduos orgânicos, que são uma das principais fonte de emissões no mundo. No Rio de Janeiro, o comitê organizador planeja manter esse patamar.

O plano de reduzir o uso de combustíveis fósseis em 20% durante os jogos de 2012 também não se concretizou. A turbina eólica que forneceria energia sustentável não pôde ser instalada no lugar planejado devido a regulações de segurança; além disso, o relatório final do comitê de sustentabilidade da Olimpíada apontou que 40% dos locais visitados não cumpriram o plano de economia de energia.


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