Folha de S. Paulo


Peixe-leão invade o Atlântico e prejudica ecossistemas de recifes

Além de comer qualquer coisa, reproduzir-se abundantemente e se adaptar com facilidade, eles se tornaram tão ubíquos e incômodos quanto ratos, embora sejam incomparavelmente mais belos e atraentes.

Quase três décadas após um peixe-leão venenoso ser avistado no oceano Atlântico, a espécie invadiu a costa leste dos EUA, propagando-se pela Flórida, pelo golfo do México, pelo Caribe e até por partes da América do Sul. Disseminando-se freneticamente desde 2005, os peixes-leão tornaram-se a espécie marinha invasora mais numerosa no mundo, afirmam cientistas.

Angel Valentin/The New York Times
Pesquisador segura exemplar do venenoso peixe-leão; espécie não tem predadores no Atlântico
Pesquisador segura exemplar do venenoso peixe-leão; espécie não tem predadores no Atlântico

Provenientes da confluência dos oceanos Pacífico e Índico, os invasores aqui chegam a medir 50 centímetros. Por onde passam, causam estragos em recifes delicados e provavelmente consomem cardumes de badejos e garoupas.

Por ora, não há como detê-los, dizem especialistas. Todavia, na esperança de desacelerá-los, biólogos marinhos e agências do governo estão intensificando os esforços para eliminá-los em áreas que abrigam recifes frágeis.

A Comissão de Conservação de Peixes e Animais Selvagens da Flórida proibiu a importação de peixes-leão e a criação dessa espécie, passos acertados para lidar com o problema, na opinião de especialistas. A comissão também liberou a pesca do peixe-leão e até lançou um aplicativo para as pessoas relatarem onde o viram.

"Sua erradicação não está em jogo, mas o controle local é comprovadamente eficaz", disse Lad Akins, diretor de projetos especiais na Fundação de Educação Ambiental sobre Recifes. "Muitas pessoas acham esse peixe um invasor quase perfeito."

Aparentemente, concursos para capturar peixes-leão têm o melhor grau de êxito. Grupos de mergulhadores se reúnem por um dia com essa missão. Recentemente, 22 mergulhadores no arquipélago de Florida Keys apanharam com arpões 573 peixes-leão em apenas um dia.

Há também uma estratégia culinária. Alguns restaurantes da Flórida passaram a comprar peixes-leão para o preparo de pratos leves e apetitosos. Segundo cientistas, assim que houver mais demanda de mercado, os pescadores ficarão atentos e ajudarão a diminuir o número de peixes-leão no mar.

"O difícil é apanhá-los", comentou Maia McGuire, da Universidade da Flórida. "O trabalho é intenso e requer mergulhadores, equipamentos e barcos."

Cientistas estão descobrindo que limitar o número de peixes-leão em um recife -em vez de exterminá-los por completo-permite que o recife e seus peixes se recuperem.

Cientistas disseram que peixes-leão foram introduzidos no oceano Atlântico por pessoas que anteriormente os compraram para seus aquários. Isso não representa um problema em suas águas nativas, onde são comidos por predadores mais fortes que mantêm a população estável. Aqui, os predadores parecem ser ludibriados por eles.

Os peixes-leão são vorazes e seus estômagos comportam entre 50 e 60 peixes pequenos. Cada fêmea pode pôr 2 milhões de ovos por ano. "Elas podem desovar a cada quatro dias, o que é realmente assustador", comentou McGuire que, em seguida, indagou: "Será que os recifes acabarão ficando totalmente cobertos por peixes-leão?"


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