Folha de S. Paulo


Crise da água em SP não é falta de planejamento, diz Secretário de Recursos Hídricos

A crise da água em São Paulo não é fruto de problema de planejamento, afirmou o Secretário estadual de Recursos Hídricos, Mauro Arce, questionado sobre por que o governo não investiu no problema em 2002, quando também houve seca.

Em debate ontem no auditório da Folha, realizado como parte do lançamento do especial multimídia "Líquido e Incerto", publicado no site do jornal, Arce disse que uma seca como essa só foi registrada uma vez, em 1953, numa série histórica de medições de chuva com 84 anos.

Ivan Dias 16.set.2014 - Folhapress
Da esquerda pra direita: Gillo, Nobre, o jornalista MArcelo Leite, Arce e Wey de Brito
Da esquerda pra direita: Gillo, Nobre, o jornalista MArcelo Leite, Arce e Wey de Brito

Para o secretário, "não existe planejamento com risco zero", e os reservatórios do sistema Cantareira só não entraram no verão de 2013 com mais água por necessidade de prevenção de enchentes.

"Em 2009, eu era secretário de transporte, tive de lidar com o problema das pontes inundadas [pelas cheias no Cantareira], e o governo foi criticado por não haver volume de espera lá", diz. "Agora, todo mundo acha que é normal que 2009 tenha enchente e 2014 tenha seca."

O secretário nacional de políticas públicas do Ministério da Ciência, Carlos Nobre, afirmou que a incerteza na previsibilidade deve crescer por conta da urbanização e do aquecimento global. "O planejamento do uso da água tem de levar em consideração que os extremos climáticos vão ser mais frequentes", diz.

Para Nobre, o sinal da mudança climática é mais claro na Amazônia. "Nos últimos dez anos, houve duas secas, em 2005 e 2010, e três enchentes históricas, em 2009, 2012 e 2014. Não é um acidente estatístico. Já é um sinal do aquecimento global."

Em São Paulo, segundo Arce, os 8,9% de água nos reservatórios do Cantareira são suficientes para sustentar a metrópole por mais 90 dias mesmo sem chuva. Para o secretário, o uso do volume morto do sistema não deve ser visto como solução improvisada, e comparou São Paulo a Nevada (EUA), que também usou essa estratégia.

"Lá, isso é planejamento, mas aqui a gente é criticado porque usou", disse Arce.

Maria Cecilia Wey de Brito, CEO da ONG WWF no Brasil, disse que o problema de planejamento não é só o de controlar o volume dos reservatórios, mas também de preservar os mananciais.

Segundo ela, a má preservação dos parques estaduais contribui para a escassez de água. "Não adianta falar de recursos hídricos separados da questão ambiental."

Também esteve no debate o presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Guillo, que respondeu a críticas sobre a incapacidade de a transposição do rio São Francisco abastecer povoados em certas regiões da obra.

"A concepção é levar água para pontos estratégicos, e aí Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, através de suas empresas de saneamento, serão responsáveis pela distribuição."

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