Sir Nicholas Stern volta à carga. Com um novo relatório sobre a economia do clima em que figura como coautor, o barão britânico que já foi economista-chefe do Banco Mundial defende que apenas uma fração do que o mundo gasta com subsídios ao petróleo permitiria prevenir um aquecimento perigoso da atmosfera terrestre.
"Podemos combinar crescimento com responsabilidade no clima? A resposta é sim", disse lorde Stern em entrevista coletiva por telefone. Basta que governos deem os incentivos corretos ao setor privado.
"O risco induzido por políticas de governo é o maior inimigo do investimento no mundo todo", afirma Stern, que publicou em outubro de 2006 um célebre estudo, "Revisão Stern", o primeiro a defender uma relação custo-benefício positiva para ações contra a mudança do clima.
O relatório "Crescimento Melhor, Clima Melhor" (newclimateeconomy.report ) foi lançado nesta terça-feira (16) pela Comissão Global sobre Economia e Clima. Ela foi criada por sete países (Reino Unido, Suécia, Noruega, Coreia do Sul, Colômbia, Indonésia e Etiópia) e é chefiada por Felipe Calderón, ex-presidente do México.
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Há três meses, um grupo de destacados economistas e financistas americanos, tanto democratas quanto republicanos, lançaram relatório com conclusões semelhantes para a economia dos EUA: "Risky Business" (negócio arriscado).
O objetivo do novo documento é influenciar a Cúpula do Clima convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para a semana que vem em Nova York. Será a primeira grande reunião de chefes de Estado para tratar do tema depois do fracasso da Conferência de Copenhague, em 2009.
O encontro decisivo está marcado para dezembro de 2015 em Paris, quando teria de ser adotado um acordo para substituir o Protocolo de Kyoto, de 1997.
MARCA PERIGOSA
As estimativas sobre o subsídio dado a combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural, variam entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão por ano.
Segundo o novo relatório, com investimento adicional de US$ 270 bilhões anuais seria possível realizar pelo menos 50% do corte nas emissões de carbono (CO2 à frente) necessárias para evitar que o aquecimento global ultrapasse a marca de 2°C. Ou até mesmo a quase totalidade das reduções, pelos ganhos de eficiência obtidos.
Acima desses 2°C, os modelos climáticos predizem que o clima poderá sofrer perturbações graves. Por exemplo, secas, ondas de calor e inundações mais graves e mais frequentes. Os próximos 15 anos, diz o texto, são cruciais para impedir isso.
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SETORES CRUCIAIS
O investimento adicional seria para introduzir inovações em três setores chave para emissões: energia, uso da terra (agricultura e desmatamento) e cidades. Em lugar de US$ 89 trilhões em 15 anos (2015-2030), a conta subiria para US$ 93 trilhões, um acréscimo de 4,5%.
É pouco, argumenta o relatório, se comparado com os custos não contabilizados da opção preferencial por combustíveis fósseis para gerar eletricidade e movimentar veículos. Só o impacto da poluição do ar sobre a saúde pública custaria em média 4% do PIB de cada país (no caso da China, mais de 10%).
O relatório propõe investimentos para tornar mais eficientes e competitivas as energias renováveis (como solar e eólica) e as cidades, mais compactas, o que permitira reduzir em até 50% os gastos com transportes.
No setor agroflorestal, defende redução no desmatamento e aumento de 1% ao ano na produtividade agrícola. Se 10% das terras degradadas fossem recuperadas para o cultivo, estima o trabalho, seria possível produzir alimentos para mais de 200 milhões de pessoas.
O projeto Nova Economia do Clima inclui também um relatório específico sobre o Brasil, realizado pelo Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio sob a coordenação de Juliano Assunção. O estudo brasileiro será publicado em novembro.