Folha de S. Paulo


Acordo em negociação não detém aquecimento 'perigoso' de 2ºC

Os termos atuais do acordo internacional que negocia a redução nas emissões de gases do efeito estufa são insuficientes para que o planeta tenha uma chance razoável de evitar o limite "perigoso" para o aquecimento global.

Essa é a conclusão do próximo relatório do IPCC (painel do clima da ONU), que inicia hoje a reunião final do grupo de trabalho 3, encarregado de avaliar a possibilidade de mitigação da mudança climática.

O documento deve ser divulgado oficialmente só no próximo domingo (13), mas uma versão do sumário não técnico do relatório obtida pela Folha aponta limitações no chamado "compromisso de Cancún" –os parâmetros já negociados para um futuro tratado mundial do clima.

A proposta na mesa prevê que um corte efetivo de CO2 e outros gases-estufa só inicie a partir de 2020. O IPCC, porém, afirma que isso impediria a concentração de carbono de ficar abaixo de 530 ppm (partes por milhão) em 2100.

Caso isso ocorra no fim do século, a temperatura média do planeta teria mais de 50% de risco de exceder o acréscimo de 2°C em relação ao clima pré-revolução industrial, o limite arbitrário considerado "perigoso" pela ONU.

Hoje a atmosfera tem 400 ppm de CO2, mas o gás emitido permanece no ar por muitos anos, e baixar concentrações requer ação rápida.

O grande problema para mitigar o aquecimento é que as emissões estão em tendência de aumento, diz o novo relatório do grupo 3 do IPCC.

Entre 1970 e 2000, a taxa de crescimento foi de 1,3% ao ano, enquanto entre 2000 e 2010, foi de 2,2%. Para evitar o limite "perigoso", é preciso que as emissões globais sofram um corte de 40% a 70% antes de 2050, algo que as ambições do compromisso de Cancún não contemplam.

Em conversa com jornalistas na semana passada, José Marengo, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do IPCC, afirmou que limitar o aquecimento em 2°C não é impossível, mas também não é nada fácil.

"Isso significaria praticamente zerar as emissões de gases-estufa a partir de 2040", disse.

"Sem reduzir as emissões, o aquecimento pode ser de 4°C ou mais até o fim do século. E aí não há adaptação que dê jeito", completou.

Essa meta requer financiamento maciço, diz o IPCC. Seria preciso um aumento anual de US$ 147 bilhões no investimento em energia renovável até 2030, além de "várias centenas" de bilhões aplicados em eficiência energética.

O investimento de mitigação com melhor custo-benefício é em países pobres, mas ainda não está claro quem vai financiar o que e onde.

Nas últimas conferências do clima, o formato e os valores de financiamento para um fundo global de mitigação têm avançado a passos lentos.

Editoria de Arte/Folhapress

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