Folha de S. Paulo


Corte Internacional ordena que Japão suspenda caça a baleias

A Corte Internacional de Justiça, principal órgão jurídico da ONU (Organização das Nações Unidas), ordenou que o Japão interrompa a sua caça anual de baleias, alegando que o programa baleeiro japonês não possui propósitos científicos, como sempre defendeu o país.

O resultado do julgamento representa uma vitória da Austrália, país que trouxe o caso à corte da ONU em 2010, e de ambientalistas. Por anos, pesquisadores argumentaram que o programa japonês de caça de baleias tinha um propósito meramente comercial e que o apelo à ciência era apenas um verniz.

Em 1982, a Comissão Internacional da Baleia (CIB) adotou uma moratória sobre a caça comercial de baleias, permitindo o abate apenas para propósitos de pesquisa.

A partir do final dos anos 1980, o Japão iniciou a caça de milhares de baleias minke e de um número menor de outras espécies nos mares ao redor da Antártida. O país sempre afirmou que a realização da caça tinha como propósito o estudo das populações de baleias e que o abate era sustentável.

Lendo o sumário da decisão judicial, de 12 votos a 4, o juiz que presidiu o caso, Peter Tomka, disse que o atual programa de pesquisa, de 2005, envolveu a matança de 3.600 baleias da espécie minke e um número menor de baleias da espécie fin, mas que os "resultados científicos obtidos parecem limitados". A decisão sugere, ao contrário, que a caça tinha razões políticas e econômicas.

AFP-03.jul.2000
Pescadores japoneses cortam o corpo de uma baleia no porto de Wada, a leste de Tóquio, diante de uma plateia de crianças de uma escola local
Pescadores japoneses cortam corpo de baleia no porto de Wada, diante de crianças de escola local

Advogados que acompanhavam o processo disseram que houve um sobressalto na plateia quando o juiz Tomka ordenou ao Japão a imediata "revogação de todas as licenças de caça às baleias" e a não emissão de nenhuma nova sob o atual programa.

"Raramente se ouve uma decisão tão forte e inequívoca nesta corte", disse um advogado com longa experiência na ONU que pediu para não ser identificado porque está trabalhando em um caso em andamento.

A decisão tem efeito legal e o Japão não pode apelar.

REPERCUSSÃO

Noriyuki Shikata, porta-voz do ministro das Relações Exteriores japonês, disse que o país lamenta a decisão e que está "profundamente desapontado" com ela. Mas, continua o porta-voz, "como um Estado que respeita a lei e como membro responsável da comunidade internacional, o Japão vai cumprir a decisão da corte".

A decisão agradou imediatamente aos grupos ambientalistas, incluindo a Sociedade de Conservação Sea Shepherd, famosa por enviar barcos para os mares antárticos para bloquear e impedir o trabalho das frotas baleeiras japonesas.

"Nós estamos muito felizes com a decisão da corte internacional", disse Geert Vons, representante do Sea Shepherd. "Nunca poderíamos ter esperado uma decisão tão forte", comemorou.

O tribunal deixou aberta a possibilidade de uma futura volta da caça se o Japão redesenhar o seu programa científico. O governo já disse que necessita de dados para monitorar o impacto das baleias sobre a indústria de pesca.

Noruega e Islândia possuem frotas baleeiras comerciais, mas não foram questionadas em cortes internacionais. No CIB, há abertura para a caça de "subsistência" por povos nativos do Ártico.


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