Folha de S. Paulo


Painel do clima da ONU sobe alerta para aquecimento global

Quem esperava ver o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) emitir um relatório mais enfraquecido em razão da recente desaceleração no aquecimento global, testemunhou os cientistas da entidade subirem o tom de alerta, destacando uma subida acelerada no nível do mar e no derretimento do Ártico.

Além de manter que a mudança climática é "inequívoca", o documento mostra projeções para o futuro com um grau de certeza melhorado. "A atmosfera e o oceano se aqueceram, a quantidade de neve e gelo diminuiu, o nível do mar subiu, e as concentrações de gases-estufa aumentaram", diz o Sumário para Formuladores de Política, a seção do documento divulgada nesta manhã.

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No final deste século, a temperatura média da superfície terrestre provavelmente vai exceder um aumento médio de 1,5°C até 2100, em relação à média de 1850 a 1900. Isso vale para todos os cenários considerados exceto o mais otimista, no qual emissões de gases estufa sofrem cortes drásticos, atingindo um pico daqui a dez anos e caindo para zero 50 anos depois.

Em um cenário intermediário, no qual as emissões dobram até 2060 e recuam a um nível maior que o atual antes de 2100, a temperatura provavelmente excederá um aumento de 2°C, limite considerado perigoso por cientistas.

No pior cenário, um no qual a humanidade triplica a emissão de gases do efeito estufa até 2100, a temperatura média provavelmente subiria até 4,8°C.

A palavra "provavelmente", na linguagem do painel, significa uma propensão acima de 66%, a melhor confiabilidade possível para projeções futuras, baseadas em modelos matemáticos de simulação do clima.

Ao avaliar o efeito das emissões de gases estufa no clima passado, o relatório é bem mais contundente. O texto afirma ser "extremamente provável" (95% de certeza) que o aquecimento observado desde o meio do século 20 seja resultado da influência humana no clima. O último relatório, de 2007, dizia que o mesmo era "muito provável" (90%).

OCEANOS

O relatório também afirma com "alta confiabilidade" que o aquecimento dos oceanos domina o aumento da energia armazenada no sistema climático. Mais de 90% da energia acumulada pela Terra desde 1971 foi armazenada nos mares, diz o relatório.

"À medida que os oceanos se aquecem e as geleiras e plataformas de gelo se reduzem, o nível do mar continuará a aumentar, mas a uma taxa mais rápida do que aquela que experimentamos ao longo dos últimos 40 anos", afirmou Qin-Dahe, co-presidente do Grupo 1 do IPCC.

O aumento do nível do mar entre 1900 e 2012 foi de 19 cm. Mesmo dentro do melhor cenário, com uma queda brusca de emissões, esse número pode quase triplicar, em razão de os oceanos já terem absorvindo muita temperatura. A hipótese mais pessimista dentro do pior cenário vê um aumento de 82 cm, que impactaria uma população de um tamanho da ordem de dezenas de milhões.

Uma das razões para a revisão dos números é que os modelos lidam melhor agora com o derretimento da Groenlândia e do oeste da Antártida. Antes, os números eram basicamente uma projeção da expansão térmica da água oceânica, que continua sendo a maior causa do aumento do nível do mar.

HIATO

A questão da desaceleração do aquecimento global nos últimos 15, o "hiato" da mudança climática, tomou grande parte do tempo de discussão dos delegados do IPCC que se reuniram nesta semana. O texto final do relatório lidou com o fenômeno afirmando que a tempereatura média global de superfície "exibe substancial variabilidade interanual e decadal" apesar de um "robusto aquecimento multi-decadal" verificado.

"Como exemplo, a taxa de aquecimento ao longo dos últimos 15 anos (1998-2012); 0,05°C por década), que começa com um forte El Niño, é menor do que a taxa calculada desde de 1951 (1951-2012; 0,12°C por década)", afirma o relatório.

Apesar de haverem estudos recentes indicando que o calor da atmosfera está sendo roubado por águas oceânicas profundas, o relatório não menciona esse fenômeno. "É preciso colher mais evidências disso", diz Thomas Stocker, o outro co-presidente do Grupo 1 do IPCC.

Editoria de Arte/Folhapress

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