Folha de S. Paulo


ONGs apoiam reserva privada no Vale do Ribeira, mas criticam usina

A ação da Votorantim no rio Juquiá atraiu elogios de ONGS ambientalistas, e uma delas, a Conservação Internacional, está negociando uma parceria no projeto. As duas organizações mais atuantes no Vale do Ribeira, porém, criticam a intenção da empresa de construir uma hidrelétrica em Tijuco Alto, a oeste, na divisa com o Paraná.

"Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa", diz Márcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica. "O fato de eles estarem preservando essa área rica em diversidade é algo que deve ser valorizado e reconhecido. Mas em Tijuco Alto nós já nos posicionamos contra o projeto da usina, em razão do patrimônio cultural das comunidades que vivem lá e do o patrimônio espeleológico."

Conservação de área privada em São Paulo surpreende cientistas

A existência de uma caverna na região, a Gruta do Rocha, e a presença de terras quilombolas demarcadas rio acima foram parte daquilo que atrasou o processo de licenciamento da usina, que se iniciou em 1989. Após concluir audiências públicas que convenceram moradores da região sobre benefícios do projeto (a contenção de enchentes na região) e de projetar uma obra de bloqueio para evitar inundar a caverna, a empresa aguarda agora uma resposta final do Ibama sobre o licenciamento.

Lalo de Almeida - 18.dez.2003/Folhapress
Área de mata que seria inundada pela usina de Tijuco Alto
Área de mata que seria inundada pela usina de Tijuco Alto

As mudanças de projeto, porém, não persuadiram todos os ambientalistas. "Aquela região tem um solo muito poroso, e ainda temos dúvida sobre se essa proteção é suficiente para não inundar a caverna", diz Nilto Tatto, coordenador do programa Vale do Ribeira no Instituto Socioambiental.

Lideranças quilombolas da região, além disso, questionam a legitimidade das audiências públicas.

Osvaldo dos Santos, representante quilombola no Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) mora no Quilombo de Porto Velho, perto da área de alagamento, e promete protestos caso o Ibama libere a usina. "A gente não abre mão de poder navegar aqui com as canoas", diz. Segundo Santos, o maior temor é o de que Tijuco Alto abra caminho para outras três usinas que o governo planeja conceder no Ribeira.

Editoria de arte/Folhapress

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