Folha de S. Paulo


Especialistas contestam metodologia usada no ranking universitário

Especialistas em educação contestam o método adotado no Ranking Universitário Folha (RUF) para avaliar as instituições de ensino. Itens como a utilização da nota do Enade no cálculo das notas das universidades e o modo como os indicadores "qualidade de ensino" e "mercado" são produzidos foram citados como imprecisos.

Neste ano, a USP (Universidade de São Paulo) perdeu a liderança no RUF pela primeira vez, ficando atrás da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) por 0,43 ponto.

Desde sua segunda edição, em 2013, o RUF conta a nota das universidades no Enade em um dos componentes do indicador que avalia qualidade de ensino, que vale quatro pontos. A USP zera nesse indicador, pois seus alunos não realizam a avaliação.

Se tivesse os mesmos pontos da primeira colocada do ranking no quesito do Enade no RUF -ou se tivesse a média nacional no exame-, a USP lideraria a listagem da Folha.

"Não é que a UFRJ esteja melhor que a USP. É que o indicador não é bom para separar a UFRJ da USP. Isso eu esperaria do MEC (Ministério da Educação), que quer forçar as entidades a fazer o Enade", afirma Leandro Tessler, físico da Unicamp, e especialista em internacionalização do ensino superior.

Tessler considera, ainda, que a diferença entre as quatro primeiras colocadas do ranking -a primeira colocada, UFRJ, obteve 97,46 pontos e a quarta, UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), 96,64 pontos– é tão pequena, que as universidades estão na verdade empatadas.

"A diferença da USP e da UFRJ é de 0.43 ponto. Isso é significativo num universo de cem pontos ou está dentro da imprecisão do próprio ranking?", questiona, usando como exemplo as duas primeiras colocadas.

A educadora Maria Inês Fini, presidente do Inep (Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do Ministério da Educação que organiza o exame, diz que "gostaria muito que a USP participasse" do Enade.

Mesmo afirmando ser crítica a ranqueamentos, Fini afirma que a possibilidade de haver uma medida de comparação entre as instituições é positiva.

"A posição das instituições depende muito dos critérios", diz ela, lembrando que a USP aparece na liderança de rankings internacionais. "A sociedade tem de ter em mente que um conjunto de indicadores permitiu fazer o ranking".

Para Renato Pedrosa, coordenador do Laboratório de Estudos de Educação Superior (Lees) da Unicamp, "qualidade de ensino" é um indicador do ranking complicado de se avaliar.

"Em geral ensino é mais difícil, pois usa coisas como pesquisa de opinião, desempenho no Enade. Pesquisa, por exemplo, é mais fácil. Você determina as universidades que mais têm pesquisa a partir do número de citações, artigos, uma coisa mais palpável", diz.

Tessler, por sua vez, cita o indicador mercado como impreciso. Para ele, ao elaborar um ranking, o principal deveria ser identificar onde se educaram os funcionários de primeiro escalão de grandes empresas.

Para o RUF, a Folha utilizou entrevistas do Datafolha com profissionais do mercado (de empresas, hospitais, consultórios, escolas). Eles foram ouvidos sobre as três melhores instituições nas áreas em que contratam.


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