Folha de S. Paulo


Sobrevivente da queda de avião nos Andes dá lições a agentes de viagem

Eduardo Anizelli/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 20-10-2015, 19h00: Entrevista exclusiva com Roberto Canessa. Ele foi um dos sobreviventes da queda de um aviao na Cordilheira dos Andes, na decada de 1972 e conta sobre a experiencia que teve. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, TURISMO) ***EXCLUSIVO***
Roberto Canessa fala sobre experiência de ficar 70 dias perdido

Receoso com os efeitos da crise econômica do Brasil sobre o turismo na Argentina e com o objetivo de motivar agentes de viagem, o governo do país vizinho recrutou, curiosamente, um sobrevivente de um dos mais icônicos acidentes aéreos.

Roberto Canessa, 62, resistiu à queda de um avião nos Andes em 1972 e passou cerca de 70 dias na cordilheira até ser resgatado.

"Não é preciso estar em um avião que caiu para saber que devemos dar um passo de cada vez", disse o uruguaio à plateia do evento Argentina em Reais, realizado na semana passada, em São Paulo.

Na ocasião, 16 operadores de turismo dos dois países anunciaram que vão oferecer pacotes cobrados na moeda brasileira (antes, eram em dólar). Trata-se de uma tentativa de evitar que a crise brasileira prejudique o turismo entre os países.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec), houve uma queda de 2,4% no número de brasileiros visitando a Argentina em 2015.

A palestra de Canessa se restringe basicamente a um relato detalhado do acidente e do resgate.

O sobrevivente do desastre, no qual morreram 29 pessoas, se especializou em dar palestras motivacionais nas quais conta o que passou.

Tinha 19 anos quando pegou o avião para ir do Uruguai ao Chile. Viajava com sua equipe de rúgbi para uma partida, mas o avião caiu em meio à neve dos Andes.

Ele afirma ter sugerido aos colegas que se alimentassem dos corpos das vítimas mortas –na queda ou depois dela, em razão das baixas temperaturas das montanhas.

"Tivemos sorte porque os corpos não tinham feridas. Como era estudante de medicina, entendia que seriam fontes de proteína. Cada um tinha seu tabu. Meu único arrependimento é que não pude pedir permissão a eles [os amigos mortos]", contou ele.

Canessa saiu do local do acidente após cerca de dois meses, caminhou por dez dias com um amigo e encontrou um vaqueiro chileno. Eles entregaram ao homem um bilhete que comprovava que estavam vivos, o que possibilitou o resgate.

"Nunca achei que a minha história fosse ajudar alguém", disse o médico à Folha, antes da palestra.

A assessoria da Mkt Marketing, agência responsável pelo workshop financiado pelo Ministério do Turismo, afirmou, por e-mail, que Canessa "foi contratado para mostrar como superar adversidades". "Exemplo que serve tanto para o público brasileiro como para o argentino, especialmente nas atuais circunstâncias."

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QUEDA NOS ANDES

A VIAGEM
O voo levava a equipe de rugby Old Christians Club, do Uruguai para o Chile, onde disputaria uma partida

QUEM ESTAVA NO VOO?
Grande parte dos passageiros eram jogadores, seus amigos e familiares; 29 morreram e 16 sobreviveram, entre eles Roberto Canessa, que hoje dá palestras motivacionais

O RESGATE
Mais de 70 dias após a queda, Canessa e um amigo encontraram um vaqueiro chileno, que buscou ajuda; o restante dos sobreviventes foram salvos de helicóptero

NA TELA
O filme "Vivos", de 1993, retrata o acidente, mas não é totalmente fiel aos acontecimentos; segundo Canessa, é "muito dramático"


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