Folha de S. Paulo


Museu na China é fechado por exibir milhares de objetos falsos

O Museu Jibaozhai, na China, foi fechado pelas autoridades locais depois de uma denúncia de que as cerca de 40 mil peças exibidas no local são falsificações.

A denúncia levou a um escândalo nacional guiado por debates bastante abertos na internet chinesa. Um escritor mordaz sugeriu que o lugar fosse reaberto como um museu de falsificações: "se você não pode ser o melhor, por que não ser o pior?", perguntou.

Wei Yingjun, consultor do museu em Jizhou, a cerca de 240 quilômetros de Pequim, insiste que a situação não é assim tão ruim. Ele diz estar "bastante certo" de que 80 ou até mais peças dentre dezenas de milhares do museu sejam autênticas.

Todos os museus têm algumas falsificações em suas coleções. Algumas vezes eles as confessam, em outras colocam qualquer artefato dúbio em um estoque escuro --e em outras vezes eles simplesmente não sabem disso. Mas um acervo que é tido pelos acusadores como inteiramente não autêntico está a caminho de se tornar uma obra-prima da museologia.

Não é que o Jibaozhai é um museu pequeno --ele tem 12 grandes salões e custou 60 milhões de yuans (o equivalente a US$ 9 milhões, ou R$ 20 milhões) para ser construído, tendo aberto as portas em 2010, dentro de um "boom" cultural que vê cerca de 100 museus serem inaugurados todos os anos na China.

Infelizmente, é difícil rechear todos esses museus, e a China também tem uma indústria prolífica de falsificações. "Fábricas" de arte exportam falsificações baratas de Rembrandts e Van Goghs, enquanto lojas de antiguidade estão repletas de réplicas enganadoras de arte chinesa clássica.

Em um de seus trabalhos provocativos, Ai Weiwei destrói o que parece ser um vaso histórico sem preço. Ele está chamando atenção para a complicada relação que a China moderna mantém com seu vasto passado cultural. Esta é uma terra com uma tradição artística contínua, que remonta a tempos pré-históricos --mesmo assim, esse passado criativo foi cortado do presente pela revolução do século 20.

Certamente a demanda por museus por toda a China reflete um desejo de se reconectar com uma grande herança. O museu de falsificações pode ser um efeito colateral disparatado. Mas a raiva e a crítica precisa que ele motivo são um triunfo da cidadania.


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