Folha de S. Paulo


Google tentou barrar o projeto, diz criador de 'cópia aberta' do Android

Em 2009, Steve Kondik criou uma versão alternativa do Android, um projeto de código aberto batizado de CyanogenMod. Depois de passar pela Samsung, Kondik fundou a Cyanogen Inc. em 2013. A companhia tenta fazer com que o smartphone fique livre das amarras do Google, das operadoras e dos fabricantes.

Durante o último Mobile World Congress, Kondik conversou com a Folha. Falou sobre quais os rumos a companhia planeja dar ao Android e sua relação com o Google e a comunidade de código aberto.

Folha - Nas últimas semanas, a Cyanogen vem enviando uma clara mensagem ao mercado de que planeja tiraro Android do Google. O que vocês realmente pretendem fazer?

Steve Kondik - Os serviços do Google são muito bons. Mas achamos que há algo mais. Queremos deixar a plataforma mais aberta para que possamos criar aplicativos ainda mais poderosos. Você deveria, por exemplo, poder criar um app de VoIP que se integra com o discador do telefone. Você deveria poder extender os aplicativos, mas atualmente não pode. Tem várias áreas em que estamos criando melhorias para a plataforma. Sempre teremos dispositivos GMS (versão do Android com os serviços do Google), mas podemos fazer no futuro um sem. Queremos achar o parceiro ideal. Mas se fizermos isso, tem que ser algo muito bom. Quando há um campo aberto, você recebe pessoas que querem fazer coisas interessantes.

Divulgação
Steve Kondik, fundador da Cyanogen
Steve Kondik, fundador da Cyanogen

Qual foi a reação do Google?

No passado, o Google me enviou um carta exigindo que desistisse do projeto. O que fazíamos era basicamente uma redistribuição do Android. Eles não gostavam muito disso. Acho que isso teve uma repercussão negativa e o Google é muito focado no consumidor final. Eles estão sempre tentando fazer a coisa certa aos olhos do público, então pararam com a pressão.

Como vocês podem tomar o Android do Google, se foi o Google que tornou o Android popular?

Não é bem tomar. As pessoas interpretaram isso como se quiséssemos o controle total do Android, roubando deles. Não é bem isso. Eles têm todo o controle. Se você quiser produzir um aparelho com GMS, tem que assinar um acordo bem intenso, que lhe amarra de várias maneiras diferentes. Não há alternativa. E ninguém teve sucesso ao construir uma. Poderemos ter controle total? Veremos. Mas esse não é o objetivo. O Objetivo é permitir mais atores no jogo. Se isso significa que acabaremos com essa plataforma, na qual há mais partes que podem extender sua propriedade, então o consumidor terá mais escolhas. E há mais competição. Na China, há uma centena de lojas de apps e todas são boas. A competição resulta em um produto melhor.

Nos últimos dois anos, vimos várias novas iniciativas de sistemas operacionais móveis. Firefox OS, Sailfish, Ubuntu... Nenhum deles se tornou um personagem importante no mercado. Como vocês podem ser diferentes?

Parece que o Firefox OS está começando a ganhar força. Mas eles focam nos segmentos mais baratos. Sobre o Ubuntu, acho que a iniciativa deles é nobre. Mas acho que o problema é o mesmo da Microsoft, de não conseguir os desenvolvedores de apps. É impossível. Ninguém quer acrescentar suporte a uma terceira plataforma. Já é difícil manter para iOS e Android. No nosso caso, já passamos todos os testes. Temos suporte intenso para tudo aquilo que o Android teria e vamos construir em cima disso.

Como vocês planejam gerar lucro?

Atualmente, estamos focados em crescimento. Somos ainda financiados por firmas de venture capital.

Como muitas start-ups, vocês planejam crescer e ser comprados por uma companhia maior?

Estamos nisso pelo longo prazo. Queremos tornar a companhia em algo grande. A realidade é que há poucas pessoas que gostariam de nos comprar. Muitos desses nomes seriam grandes nomes. Não estamos interessados nisso. Queremos levar isso a uma nova direção. Será uma estrada difícil e já tivemos alguns obstáculos...

Quais obstáculos?

Quando você tem um projeto de código aberto e começa a receber grandes quantidades de dinheiro, as pessoas começam a questionar o que você está fazendo. Ouvimos muitas teorias da conspiração.

Há pessoas tentando levar royalties por supostamente terem criado partes do sistema?

Contratamos um monte de gente da comunidade. Se você entrar num projeto de código aberto, e fizer coisas legais, há boas chances de que tentarei contratar você. Se não contratei, é porque há uma boa razão.

Com a parceria anunciada com a Qualcomm, qual é o papel que fabricantes locais de smartphones podem ter em espalhar o Cyanogen em diferentes mercados?

A parceria é para entrarmos em mais mercados, mas também para que fabricantes tenham acesso mais veloz a um pacote de recursos melhor. A parceria visa produtos baratos com uma versão bem limpa do Android, que pode ser facilmente customizado pelo fabricante. Esperamos que alcance mais pessoas.

Quais mercados vocês estão focando?

O foco principal é os EUA e a Índia.


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