A Lego demonstrou recentemente que pessoas que sirvam como exemplo às meninas na ciência e tecnologia continuam tão escassas no mundo dos brinquedos quanto são no mundo real.
A companhia causou entusiasmo em agosto ao lançar uma linha dirigida a meninas chamada Instituto de Pesquisa, a primeira linha da Lego a retratar mulheres no mundo profissional, e não no mundo da diversão.
A linha incluía três mulheres cientistas em seus respectivos laboratórios (e sem os delicados vestidos rosa usados pelas garotas da linha Friends, sucesso de vendas da companhia).
O lançamento atraiu atenção da mídia, especialmente tendo em vista a pressão enfrentada pela empresa neste ano, quando a carta de uma menininha -que pedia à Lego que produzisse linhas mais realistas para meninas, oferecendo-lhes aventuras e empregos, em lugar de apenas festas ou trabalho de cozinha- virou sucesso viral.
Poucos dias depois do lançamento no começo de agosto, a linha, composta por uma paleontologista, uma astrônoma e uma química, esgotou o estoque disponível -a edição era limitada- no site da Lego e nem mesmo foi colocada à venda em grandes cadeias de varejo como a Target e a Walmart, nos EUA.
Dois anos atrás, a Lego lançou sua linha Friends, voltada às meninas, uma série de conjuntos que conquistaram grande sucesso.
Em 2013, o lucro da empresa sediada na Dinamarca subiu 9%, para 6,1 bilhões de coroas dinamarquesas (cerca de US$ 1 bilhão).
Os conjuntos Friends, que oferecem cenários como uma passarela de moda, uma casa de praia, um estúdio fotográfico e um salão de beleza, atraíram certas críticas, e pais apelaram por figuras com papéis menos tradicionalistas para os dois sexos.
O Instituto de Pesquisa foi uma proposta de Ellen Kooijman, geoquímica que trabalha na Suécia, e a ideia foi submetida por meio da plataforma Ideas, da Lego, cujo objetivo é atrair a colaboração de fãs para sugerir seus cenários ideais.
As linhas criadas com ajuda do Ideas incluem um carro DeLorean convertido em máquina do tempo, baseado no carro tornado famoso pelos filmes "De Volta para o Futuro", e uma versão do Ecto-1, o veículo usado nos filmes da série "Caça-Fantasmas".
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'BRINQUEDO DE MENINA'
Como é típico no caso dos produtos Lego baseados na plataforma Idea, o conjunto teve produção e divulgação limitadas, de acordo com McNally, que se recusou a informar quantas unidades a companhia produziu.
"Acredito que estejamos começando a ver o fim da divisão por sexos nos corredores de brinquedos", disse Jim Silver, editor-chefe da revista "Time to Play".
Talvez. Mesmo assim, há quem tenha ficado desapontado com os rostos e as formas das pesquisadoras lançadas pela Lego. Todas usam batom, e pelo menos uma delas tem curvas desenhadas.
Kelli McCannell, presidente da Hardy Girls Healthy Woman, uma organização sem fins lucrativos que criticou a linha Friends, questionou as bonecas maquiadas.
"Embora eu ache que mulheres devam usar maquiagem sempre que quiserem, considero engraçado que maquiagem tivesse de ser incluída nas bonecas e que a empresa considerasse que as meninas se divertiriam com isso", ela disse.
"Creio que é aquela velha história de dois passos à frente, um passo atrás."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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