Folha de S. Paulo


ONG que auxilia start-ups abre escritório no Brasil; leia entrevista

Definida por seus executivos como "pré-incubadora", a ONG UP Global promove encontros e programas de aprendizado para melhorar o ambiente de negócios para start-ups. O lançamento do escritório de São Paulo acontece nesta terça (25), na sede do Google –um dos patrocinadores da organização.

Em 2013, a UP Global organizou eventos para fomentar start-ups em 467 cidades, "incluindo Teerã, no Irã, e Bagdá, no Iraque", como gosta de salientar o vice-presidente de produtos da ONG, Dave Parker. Ele falou à Folha durante sua passagem pelo Brasil para a inauguração do sexto escritório no mundo, além da sede em Seattle e das filiais em San Francisco, Londres, Cidade do México e Nova Délhi. Leia trechos abaixo.

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O vice-presidente de produtos da Up Global, Dave Parker
O vice-presidente de produtos da Up Global, Dave Parker, no Brasil para o lançamento da ONG em SP

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Como o sr. enxerga o ecossistema de start-ups brasileiro?
Sinceramente, é melhor do que eu esperava. Há muito empreendedorismo por todo o Brasil. Há cidades que possuem "densidade" –uma comunidade coesa de empreendedores fazendo start-ups. Quando isso acontece, há parceiros comerciais que começam a compreender e a querer trabalhar com start-ups. Rio, São Paulo, Floripa têm densidade. O que estamos fazendo agora, ao abrir um escritório no Brasil, é ajudar as cidades a ter mais "densidade".

Qual é a vantagem, para os empreendedores, de começar uma empresa dentro de um dos programas da ONG?
Uma das coisas mais legais do programa de 54 horas é que são feitos muitos aplicativos e muitos sites, porque é o que as pessoas são capazes de fazer em um período tão curto. Mas não é realmente sobre aquela ideia específica. Porque muitas vezes, algum tempo depois, a equipe se reúne e não há mais interesse em ficar juntos. Na verdade, nossos programas são sobre como as pessoas podem descobrir a ser empreendedoras, menos sobre alguma ideia específica.

Alguns analistas de mercado americanos sugerem que há uma bolha financeira de start-ups. Qual é a opinião do sr. em relação a isso?
A razão por que as pessoas dizem isso é a aquisição do WhatsApp pelo Facebook [por US$ 19 bilhões], certo? Há algumas exceções –como o WhatsApp, o Instagram, o Snapchat–, mas a maioria das empresas não é vendida por tudo isso. Todas essas exceções tinham algo em comum: eram um produto viral super atraente. A companhia "média" não tem todo esse apelo. Nesse sentido, empresas "virais" não precisam de um modelo de negócios. Quando as pessoas olham para esse valor maluco, não entendem. O que o Facebook sabe é que, para adquirirem um novo usuário, custa cerca de US$ 140. Levando em conta o número de usuários do WhatsApp, e levando em conta o custo de trazer novos usuários ao Facebook, é até barato. Agora, se você retirar essas exceções do mercado, então não há valores super loucos e fora do comum. Em 1999 [quando houve uma bolha de internet nos EUA], sim, era maluco. Empresas sem nenhum usuário, sem receita e sem um modelo de negócios eram vendidas por milhões de dólares. Não é o caso agora.

Que características das start-ups brasileiras são únicas em comparação às americanas?
Há muitas similaridades. A grande coisa do nosso programa é que ele é sobre as ideias dos indivíduos e sobre o processo deles em descobrir o que realmente querem fazer. Muitas das ideias iniciais mudam. Nós temos um programa que dura seis meses, com uma reavaliação na metade. Muitos deles vêm com uma hipótese que muda dramaticamente nessa reavaliação aos três meses de programa. Sua ideia nem sempre continua de pé após a interação com os usuários. Às vezes acontece: "Ah, eu achava que eles queriam isso, mas na verdade eles queriam aquilo outro".

Qual é a principal fonte de renda da ONG e como os patrocinadores se beneficiam sendo parceiros de vocês?
No ano passado, a maior parte da nossa receita veio de patrocinadores, como Coca-Cola, Google e Amazon. Esses patrocinadores acreditam no que fazemos porque, em última instância, os ajuda a encontrar pessoas no ecossistema que estão dispostas a construir usando as plataformas fornecidas por eles. Então, se você é o Google ou a Amazon, nós encontramos pessoas que querem construir usando as suas plataformas –ou beber Coca-Cola, se for o caso [risos]. Cerca de 80% da nossa receita no ano passado veio de patrocínios, o resto veio de venda de ingressos para os nossos eventos. Em relação às despesas, 23% foram com cerveja e pizza. Então, nós ganhamos dinheiro nos eventos que fazemos no Ocidente [EUA, Europa e América Latina] e perdemos dinheiro no resto do mundo.


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