O mesmo oportunismo que Romário mostrava dentro da área ele revela como político. Para o bem e para o mal.
Como artilheiro, sempre para o bem dos times que defendeu e da seleção.
Como senador nem tanto.
Ao mesmo tempo em que é capaz de discursar e até agir contra a corrupção no futebol, alia-se a cartolas como Eurico Miranda, por quem tem verdadeira veneração, e é protegido até nas dívidas que o Vasco mantém com ele.
Confuso em seus posicionamentos, não percebeu ainda que era mais fácil enganar goleiros e zagueiros que cidadãos e eleitores.
Por exemplo: lutou para instalar uma CPI sobre a CBF e não poupa a dupla Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, e José Maria Marin, ex-presidente, dos piores adjetivos, destes que só pode utilizar quem tem imunidade parlamentar, como "ladrão" etc.
Ao mesmo tempo, no entanto, anunciou que votaria contra a Medida Provisória do Futebol, medida saneadora para alterar a governança no futebol brasileiro e que imporia limites à CBF.
Será porque Eurico Miranda votou em Marco Polo Del Nero?
Incapaz de estabelecer prioridades, tem decepcionado equipes e mais equipes de jornalistas do mundo afora ou por não responder aos pedidos de entrevista, ou por marcá-las e não aparecer, como se fosse um Tim Maia. Aliás, a comparação, exceção feita ao corpo de cada um, até faz sentido.
O episódio mais conhecido foi o bolo que deu numa equipe da BBC porque preferiu ficar jogando futevôlei numa quadra na capital federal.
Notabilizou-se também, é verdade, pela causa das crianças com síndrome de Down. Pelo que merece elogios.
Parlamentar do PSB, viveu às turras com o então maior nome do partido, Eduardo Campos.
Não gostava do neto de Miguel Arraes no que, diga-se, era correspondido na mesma proporção.
Tudo isso, ou nada disso, teria grande importância se o senador Romário fosse minimamente coerente, razoavelmente previsível. Mas não é o que se vê e, aos poucos, de contradição em contradição, aumenta o contingente de pessoas que não o levam a sério, gente que até não gostava dele como craque/celebridade pelas denúncias da ex-mulher a quem não pagaria pensão alimentícia, mas que se dizia surpresa com sua atividade política.
Em bom português: o discurso de Romário não tem sido acompanhado pelos atos de Romário, macunaímico como sempre foi, no papel de atacante genial, inclusive.
Com a diferença fundamental de que, então, ele proporcionava muito mais alegrias que tristezas.