Folha de S. Paulo


Pintor expõe assinaturas de artistas como Tarsila do Amaral, Hilda Hirst e Di Cavalcanti

Da próxima vez que for a uma exposição, preste atenção no livrinho de assinaturas preso com fio de náilon à base da caneta Bic azul no canto da galeria. Ele pode guardar mais que garranchos incompreensíveis.

Foi o que percebeu o veterano artista Dudu Santos, 70: páginas "autografadas" em exposições suas nos anos 1960 por Tarsila do Amaral, Flavio de Carvalho, Di Cavalcanti, Anita Malfatti e outros modernistas tornaram-se quadros, expostos até domingo na galeria Jaqueline Martins, em Pinheiros (zona oeste).

O resultado, diz o artista, é melhor que as exposições originais.

"Embora tenham feito sucesso, acho minhas obras da época uma merda. Tinha só 18 anos, tudo era decorativo, sem conceito, uma bosta mesmo", reconhece Santos, cujo "mea culpa" não inclui suas performances realizadas nos anos 1990 --quando usava o corpo de mulheres nuas como pincel em "happennigs" pela cidade. "Ali eu já estava maduro", diz.

Dessa vez, o artista se inspirou no gestual breve das assinaturas para criar desenhos também rápidos, em guache e tinta acrílica, distribuídos nas áreas brancas do papel.

"Todas as rubricas foram preservadas. Além de quadros, portanto, as obras são registros históricos, dá para ver a letra da Tarsila, da Hilda, do Flávio."

ELITE

Tarsila, Hilda e Flávio, diga-se, eram amigos seus.

Herdeiro de uma das primeiras galerias de São Paulo --a Atrium, inaugurada em 1962 na rua São Luís (centro) --, Costa cresceu cercado pelo que chama de "elite intelectual e boêmia da cidade".

No bar de casa ou no "Clubinho dos Artistas" (inferninho no subsolo do prédio do Instituto dos Arquitetos do Brasil, no centro), virava noites --e garrafas de uísque --com parceiros como Vinícius de Moraes e Alfredo Volpi.

Flávio de Carvalho, conhecido pela performance em que desfilava o "New Look" (combinação de saia de pregas, blusa de nylon com mangas bufantes, meia arrastão e sandálias) na rua Direita (centro), é chamado por Santos de "soturno e pão duro".

"A gente tomando várias e ele só no guaraná, sempre de olho na conta", afirma. E suaviza: "Era um querido."

Já com autora do Abaporu, "amiga de mamãe", por pouco não engatou um romance. "Já doente, nos anos 1970, ela dizia que queria me levar para Paris e ter comigo um affair", conta.

E aí, topou? "Não, eu só ria..."

A exposição Livro de Assinaturas é a 40ª individual da carreira de Santos, que já teve obras expostas no Mac-USP e no Museu Central de Tokio, no Japão. Além das telas e performances, o artista assinou capas de livros, como "Deus da Chuva e da Morte", primeira publicação de Jorge Mautner (1962).


Endereço da página:

Links no texto: