Folha de S. Paulo


Conheça os quatro filhotes que nasceram no zoológico de São Paulo

Na madrugada do dia 7 de junho, a bióloga Amanda Alves de Moraes, 29, recebeu uma ligação do segurança noturno do Zoológico de São Paulo. A voz do outro lado da linha parecia preocupada: "A bolsa estourou!".

Na mesma hora, ela dirigiu de sua casa, em São Bernardo do Campo, até o zoo, na Água Funda (zona norte). Lá, encontrou-se com quatro veterinários, um tratador e dois ajudantes.

A equipe de oito pessoas se postou na frente do monitor da sala de segurança para observar a girafa Mel, 7, parir sua segunda cria com o macho Palito, 7. A girafa normalmente dá à luz em pé, e o tombo do filhote é de dois metros.

A ideia é que os animais façam o parto sozinhos. A equipe só interfere se houver complicações. No caso da girafinha, a ajuda foi necessária: depois de duas horas, nada de filhote.

DA ALTURA DA ANA HICKMANN

Com todo cuidado para não estressar a mãe, o grupo entrou no abrigo e, com uma corda, puxou para fora a 24ª girafinha nascida no zoológico paulistano desde 1977.

O macho, parido com 1,85 m (a altura da apresentadora Ana Hickmann), virou estrela na seção de mamíferos e terá nome escolhido por concurso. Todo nascimento no zoo é um acontecimento, mas as girafas causam ainda mais furor -são uma das espécies favoritas do público.

"A gente tem todo um trabalho para engajar as crianças com as espécies brasileiras, mas não tem jeito: os bichos exóticos chamam mais atenção", afirma Amanda.

A girafinha foi um dos quatro nascimentos do zoo em seis meses.

Os outros são Monalisa e Leonardo, casal de largatixas-leopardo (espécie de lagarto nativa de países asiáticos como Afeganistão, Índia e Paquistão), e Poliana, fêmea de gato-do-mato nascida dia 14 de janeiro.

A bichana é filha temporã de dois gatos-do-mato idosos: Luiza, 15, e Poli, que morreu aos 17 anos, antes de a filhote vir ao mundo.

O cruzamento era especial: além de Luiza ser velha (a expectativa de vida da espécie é de 12 anos na natureza e 15 em cativeiro), ela tem a herança genética especial --é inteira preta, o que não é comum.

"Colocamos os dois gatos idosos juntos, mas sem muitas esperanças, que acabaram de vez quando Poli morreu", conta Amanda.

Mas, exatos 78 dias após o crepúsculo do macho (e também o tempo de gestação da fêmea), Poliana nasceu. "Achamos que fecundar a fêmea foi o último ato do Poli", diz a bióloga.

A gata foi tirada novinha de perto da mãe, que tem um histórico de atacar os próprios filhotes. Bichos rejeitados ou órfãos resgatados da natureza são criados e alimentados pelos próprios biólogos.

Prova disso é a coleção de bicos de mamadeira de diversos formatos e tamanhos que existe na seção de mamíferos --desde seringas com microbicos para porquinhos até bicos de 5 cm para grandes herbívoros.

TOMA QUE O FILHO É TEU

Rejeição à prole é corriqueiro em animais em cativeiro, principalmente entre felinos, mas Amanda garante que isso não quer dizer que os bichos não são felizes.

O zoológico toma diversas medidas para garantir a felicidade de seus moradores. "Quanto mais parecido o comportamento em cativeiro for com o observado na natureza, melhor."

Para isso, um programa chamado Enriquecimento Comportamental Animal evita que eles caiam no tédio. A ideia é aumentar os estímulos: tratadores espalham cheiros, mudam a disposição dos objetos, variam os alimentos e os colocam em locais diferentes, às vezes escondidos.

Há um controle populacional para impedir que os bichos mais "afoitos", como o macaco-prego, superpovoem o zoológico. Hoje, são 3.200 residentes em 824,5 mil m².

Em outros casos, a reprodução precisa ser estimulada. Os biólogos da seção de répteis precisaram de trabalho e estudo para que as lagartixas-leopardo gerassem herdeiros.

"Tentamos chocar ovos em diversos ambientes e condições até termos sucesso", diz Michelle Granato, 24, responsável do setor. Ela fez papel de cupido para os pais de Monalisa e Leonardo (que são considerados aptos para reproduzir quando atingem o peso de 35 gramas).

"Eles não estavam cruzando. Aí percebemos que o pai ficava louco perto de uma fêmea específica, então juntamos os dois. Deu certo."


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