Folha de S. Paulo


Músicos aderem à 'festinha privê' e até cozinha vira palco

A advogada Gabriela Cais, 27, costuma levar petiscos ao show de alguns de seus cantores preferidos. O pacote de amendoins ou o bolo de fubá rodam entre músicos e plateia.

Nessas ocasiões, ela se acomoda na cama, no sofá de couro ou numa das almofadas que os próprios convidados levam à casa do coordenador de marketing maranhense Web Mota, 29.

O sobrado de 200 m² no Pacaembu, na região central, faz parte de um circuito fechado de apresentações intimistas na cidade --feita a portas fechadas, na casa dos próprios músicos ou de seus amigos.

Uma vez por mês, de 20 a cem pessoas invadem o "cafofo" de Mota. Ali se apresentam de iniciantes como Phill Veras a nomes mais conhecidos, entre eles Tatá Aeroplano.

É uma espécie de luau urbano, que acaba servindo de "test-drive" para artistas. "Você canta junto, bate um papo e passa o violão para o próximo", diz o músico paulistano Pélico, 37. "Já toquei canções do meu disco que sai só no ano que vem."

Quem fica de fora da lista de convidados tem de se contentar com fotos e vídeos que Mota publica na internet. O mesmo acontece no lar da cantora Tiê, 33, que criou em 2010 o projeto Na Cozinha ou no Jardim.

A ideia surgiu quando ela, grávida da primeira filha, "não queria deixar de ver shows e amigos". Na estreia, Tiê recepcionou a francesa Soko. A convidada cantou em sua cozinha.

No mês passado, foi a vez do uruguaio Jorge Drexler se apresentar no jardim da casa na Lapa, zona oeste. Ele dedilhou seu violão entre flores, uma bananeira, brinquedos de Liz e Amora (as duas filhas da anfitriã) e um pipoqueiro contratado por R$ 200.

Drexler --que nos dias seguintes arregimentaria multidões em shows no Bourbon Street e na Virada Cultural-- já saiu do quintal de Tiê engatando uma cachaça. A trilha sonora, então, virou responsabilidade do colega brasileiro Marcelo Jeneci, que tocou o piano que fica na cozinha.

Tiê gosta do clima "entre amigos". Em agosto, por exemplo, a farra teve ela vestida como a empregada Nina de "Avenida Brasil" (Globo). No final, foram os convidados que arregaçaram as mangas para faxinar a casa.

O plano de fazer uma festinha "privê" quase furou quando um amigo foi dar uma canja e avisou para alguém, por celular, o endereço da casa. Como tudo é exibido on-line, Tiê temeu penetras. "Mas não foi ninguém."

CHEGA MAIS

Curiosos são bem-vindos na Brasamora. É assim que os cinco moradores chamam o sobrado na Vila Romana (zona oeste). Há dois anos, eles realizam saraus e exibem filmes. Já fizeram uma fábrica de estamparia para camisetas e CDs no fundo da casa.

O quinteto convida amigos por Facebook e por telefone, mas tudo bem se um desconhecido chegar. "Tem a questão de segurança, mas não pensamos muito nisso", diz o professor de sociologia e residente Carlos Conte, 28. "O portão fica aberto."


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