Alvo de denúncia de acusação de corrupção passiva, o presidente Michel Temer pretende reforçar a equipe de comunicação do Palácio do Planalto para tratar de gerenciamento de crise, atendimento a veículos de imprensa e aprimoramento de medidas governamentais.
A ideia em discussão é remanejar para a Presidência da República contratos em vigor que foram vencidos por meio de licitação por empresas de comunicação para atender a pastas da Esplanada dos Ministérios.
A estratégia é montar uma espécie de gabinete publicitário para melhorar a imagem do governo, que, segundo a última pesquisa Datafolha, detém aprovação de só 7%.
Nesta quarta-feira (5), a realocação dos contratos foi tratada em reunião, no Planalto, entre assessores presidenciais e representantes do Grupo Inpress, da CDN Comunicação e da FSB Comunicação, detentoras de contratos na Esplanada.
A última atende à JBS, do empresário Joesley Batista, que acusou o presidente de liderar a "maior organização criminosa do país" e cuja delação premiada baseia parte da denúncia e do inquérito contra ele no Supremo Tribunal Federal. Ela atende atualmente pastas como Saúde, Esporte e Defesa.
As empresas que farão esse serviço no Planalto e os valores gastos ainda não foram definidos. Segundo o Planalto, o serviço será temporário e feito enquanto é viabilizada uma nova licitação.
A assessoria da Presidência nega que o uso de verba de ministérios para serviço no Planalto sem uma concorrência pública seja uma prática ilegal, mesmo que essas empresas tenham vencido licitações para atender a funções e serviços específicos em outras áreas do governo.
De acordo com o Planalto, o mesmo modelo foi utilizado durante a Olimpíada e a Paraolimpíada, em 2016, quando empresas de publicidade atuaram em conjunto para atender a veículos de imprensa internacionais.
Na época, a empresa CDN realizou treinamento com ministros para eles lidarem com a imprensa, o chamado "media training". O treinamento foi direcionado a auxiliares presidenciais da linha de frente dos eventos mundiais, como os chefes da Casa Civil, Justiça, Cultura e Esportes.
O reforço ocorre no momento em que o presidente encontra dificuldades para conseguir o apoio de uma maioria simples na Comissão de Constituição e Justiça para barrar a denúncia da Procuradoria-Geral da República, que o acusa de corrupção.
Caso a denúncia seja apoiada em plenário por 342 dos 513 deputados, o Supremo é autorizado a analisar a acusação contra o presidente. Se o tribunal abrir a ação, Temer é afastado por até 180 dias.
A comunicação é considerada uma área sensível do governo peemedebista desde que o presidente assumiu o Palácio do Planalto, em maio do ano passado.
Para tentar melhorá-la, Temer recriou o cargo de porta-voz e abriu processo de licitação para empresas de publicidade no valor anual de R$ 208 milhões, que pode ser renovado por até cinco anos.
A iniciativa foi a maior feita pela Secretaria de Comunicação Social na gestão peemedebista.