Folha de S. Paulo


Após 40 anos recebendo políticos e advogados, Piantella fecha as portas

Alan Marques - 4.ago.12/Folhapress
***ESPECIAL**** Brasília, DF, Brasil 04-08-2012 a 1h do sábado O advogado Antonio Carlos de Almeida 'Kakay' Castro canta ao som do piano de Marcinho Silva no restaurante Piantella, na Asa Sul. Kakay é advogado de Duda Mendonça no caso de corrupção conhecido por mensalão e é julgado pelo STF neste mês de agosto. (Foto: Alan Marques/Folhapress, PODER)
O advogado Carlos de Almeida Castro, o Kakay, canta no restaurante Piantella

No mesmo dia em que Dilma Rousseff foi afastada definitivamente e Michel Temer assumiu o cargo de presidente da República, o Piantella, restaurante que funcionou como ponto de encontro de políticos e advogados de Brasília por 40 anos, fechou as portas.

Entre os clientes que foram se despedir do espaço estavam o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso e criminalistas como Alberto Toron, Miguel Pereira Neto e Juliano Breda.

O menu da noite, por conta da casa, foi galinhada. Barroso estava deixando o local quando foi avisado pelo garçom que seu prato já estava servido. "Não vai dar, minha mulher está me esperando em casa", disse.

Foi esse clima de descontração que manteve os frequentadores há tantas décadas. Muitas vezes, o restaurante reabria as portas de madrugada só para atender pedidos de políticos. "Numa dessas a gente recebeu uns 150 aqui", contou o advogado Carlos Almeida Castro, o Kakay, que há dois anos se tornou o único dono do negócio depois de comprar a parte do fundador Marco Aurélio Costa.

A história de Kakay com o Piantella começou quando chegou a Brasília. "Queria impressionar uma menina e pensei em levá-la ao Piantella, mas tinha pouco dinheiro. Falei com o maître Francico das Chagas que já trabalhava aqui e ele me indicou um prato para dividirmos e uma caipirinha. Quando cheguei, a moça já conhecia a casa e foi pedindo tudo, umas cinco caipirinhas e até sobremesa. Fiquei devendo e voltei uns cinco dias depois para pagar", conta Kakay, que se tornou sócio do local há 17 anos.

Entre os momentos que relembra está uma votação da Câmara presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no ano passado. Sem quorum para votar uma matéria importante, o deputado ligou para o restaurante e pediu para que convocassem todos os deputados presentes para voltarem ao Congresso.

HISTÓRIA

Nos seus 40 anos de história, o Piantella funcionou como um reduto do poder. Com mesa cativa, o então presidente da Câmara Ulysses Guimarães usou o restaurante como núcleo de articulação da campanha pelas Diretas Já. Mesmo depois da última reforma, em 2013, Kakay manteve o "cantinho do senhor Ulysses".

O Piantella também foi o quartel-general da oposição que derrubou o ex-presidente Fernando Collor, em 1992.

Apesar de toda fama, Kakay, um dos advogados mais requisitados para livrar políticos e empresários envolvidos em escândalos de corrupção, não conseguiu salvar o negócio.

Quando entrou na sociedade, a dívida do restaurante já era alta. Em 2011, por orientação do colega triburista Sasha Calmon aderiu ao refis e dividiu a conta em 180 meses.

Para trazer fôlego ao negócio, tentou uma parceria com o chef Alex Atala, que não prosperou. Ainda insistiu em uma reforma, que veio acompanhada de um novo cardápio com preços mais em conta, mas a crise persistiu.

"Segurei esse lugar por mais três anos porque o Piantella era uma instituição, mas não deu mais", concluiu Kakay.


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