Com a formação de alianças para a eleição municipal, a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), candidato à reeleição, tirou o comando de subprefeituras de partidos que não se aliaram aos petistas para favorecer legendas fiéis à sua candidatura.
Os subprefeitos são indicados por Haddad, mas funcionários influentes nas pastas em geral estão vinculados a vereadores ou outras forças políticas regionais.
Dessa forma, partidos que deixaram a base governista foram desalojados. "A prática do clientelismo funciona de maneira objetiva", afirmou um vereador que pediu para não se identificar.
O PMDB, ao romper a aliança com o PT e lançar a senadora Marta Suplicy candidata a prefeita, perdeu pelo menos três subprefeituras.
Quatro partidos que se aliaram ao PSDB em torno da candidatura do empresário e apresentador de TV João Doria –PSB, PHS, PP e PV– deixaram de ter influência regional na gestão petista desde maio deste ano, quando começaram as formalizações das alianças eleitorais.
O PSB do vereador Eliseu Gabriel foi afastado de Pirituba, que está agora sob o comando do PT. Da Lapa, Gabriel tinha sido desligado havia mais tempo, cedendo espaço ao PHS.
Como a sigla também se aliou ao PSDB, a Lapa agora está sob controle de Celso Jatene (PR), aliado de Haddad, ex-secretário municipal de Esportes que disputará a reeleição à Câmara Municipal.
Em compensação, o presidente estadual do PHS, o vereador licenciado Laércio Benko, foi empossado nesta semana secretário estadual do Turismo do governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), em troca do apoio a Doria.
A gestão estadual nega a existência de vinculação. Benko nega ter tido ascendência na Lapa.
A subprefeitura da Vila Maria tinha influência do PHS e do PP do vereador Wadih Mutran, que migrou para o PDT e, assim, pode manter o poder regional. O PP foi agraciado por Alckmin com a Secretaria do Meio Ambiente.
O PV, que está com Doria na disputa pela prefeitura e deve assumir a pasta da Cultura no governo estadual, perdeu a subprefeitura de Jaçanã, entregue ao aliado PC do B e ao próprio PT.
Da parte do PMDB, que rompeu com a gestão petista em 2015, a subprefeitura de Santana tinha a influência do vereador Nelo Rodolfo e agora está com Ushitaro Kamia (PDT), primeiro suplente e candidato a vereador.
Santo Amaro tinha controle do vereador Ricardo Nunes e hoje ficou com ala do PT ligada ao próprio prefeito.
A subprefeitura de Ipiranga/Saúde era comandada pelo vereador George Hato e agora está com Nazareno Antonio da Silva, o Buiu, líder da Unas (associação de moradores de Heliópolis) e candidato a vereador pelo PT.
COSTURAS
O governo municipal fez costuras individuais com vereadores na tentativa de garantir aprovação de projetos do governo no Legislativo.
O vereador José Police Neto, por exemplo, é do PSD, que se aliou ao PMDB na eleição majoritária. Mas, segundo pessoa envolvida na articulação, ele ainda divide influência na subprefeitura da Vila Mariana com o PT.
Já a vereadora Edir Sales, também do PSD, perdeu o controle da Vila Prudente para a petista Juliana Cardoso.
O vereador Conte Lopes, do PP, ainda apita em Santana, apesar de seu partido agora estar com o PSDB.
O mesmo vale para o vereador Paulo Frange, do PTB, que apoiou o candidato a prefeito Celso Russomanno (PRB), líder nas pesquisas de intenção de voto, de acordo com o Datafolha de julho. Frange mantém influência em Pirituba, ao lado do PT.
Com as negociações individuais, a gestão aposta conseguir apoio de ao menos 30 dos 55 vereadores da capital em votações relevantes.
Mas, considerando os partidos oficialmente na base (PDT, Pros, PR e PC do B), a administração de Fernando Haddad ficou com 19 apoios.
OUTRO LADO
A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) negou que as substituições em subprefeituras em favor de partidos que estão coligados com o petista na eleição paulistana tenham fins eleitorais.
"Em escala mundial, os partidos que apoiam têm participação no governo", disse o secretário municipal de Relações Governamentais, José Américo Dias.
"O que é contra a lei é aparelhar, utilizar de forma ilegal para fazer campanha e ajudar um mais do que o outro, mas isso nunca houve sequer uma crítica contra nós", afirmou. "O nosso governo sempre primou pelos princípios republicanos, segundo os quais deve prevalecer interesses da cidade, e não desse ou daquele vereador."
Segundo Dias, a "estrutura fundamental" das subprefeituras é técnica e "não tem ligação política imediata".
Coordenadores de obras, de uso do solo, de finanças e jurídico são, "na maioria", funcionários da prefeitura e ligados ao subprefeito, que, por sua vez, é indicado pelo prefeito por critérios técnicos, afirmou o secretário.
"Onde tem vinculações políticas são nas assessorias, então não se pode falar em predominância de influência política. Não vejo qualquer tipo de interferência", acrescentou o secretário.
Dias afirmou que Haddad determinou o respeito "escrupuloso" da legislação eleitoral para que subprefeitos e vereadores não passem "nem perto do palanque".
"Ele mesmo, como não está se afastando [do cargo para disputar a reeleição], só fará atividade de caráter eleitoral antes de iniciar o trabalho, no almoço, à noite ou no fim de semana, e como é candidato, não poderá participar de nenhum evento ou inauguração da gestão", concluiu.
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DANÇA DAS CADEIRAS
Partidos perdem e ganham influência
LAPA
De Celso Jatene (PR), foi de Eliseu Gabriel (PSB) e Laércio Benko (PHS)
VILA MARIA
Ficou sob o comando de Wadih Mutran, que saiu do PP e foi para o PDT
JAÇANÃ
Agora com o PCdoB e com o próprio PT, era de Aníbal de Freitas (PV)
IPIRANGA/SAÚDE
Agora com Buiu, candidato a vereador pelo PT, era do PMDB
SANTO AMARO
Hoje com ala do PT ligada a Haddad, era de Ricardo Nunes, do PMDB
SANTANA
Com Ushitaro Kamia, do PDT, era do vereador Nelo Rodolfo (PMDB)
VILA PRUDENTE
Hoje com o PT de Juliana Cardoso, era da vereadora Edir Sales, do PSD
CIDADE TIRADENTES
De Alessandro Guedes (PT), era de Dalton Silvano, na época PSD